Está fora do sistema e
sente grande prazer nisso. Não lhe parece que um bom casaco ou uma boa
gravata façam um grande treinador mas sente que uma elementar peça de
roupa pode contribuir para o contrário. «Veja-se o sobretudo de
Mourinho, que ficou mundialmente famoso...» — eis Paulo Sérgio, na
primeira pessoa.
— É um dos treinadores a começar a despontar
em Portugal, de uma nova geração onde ganham saliência Domingos
Paciência, Lito Vidigal, André Villas Boas e Jorge Costa. O que o
distingue dos outros?
— São excelentes nomes, gente de
grande capacidade. Mas para mim o treinador do momento é só um, o
Domingos. Às vezes as pessoas têm vergonha de chamar as coisas pelos
nomes, mas o trajecto do Sp. Braga tem sido fantástico. Se tiver que
destacar um nome, esse nome é o Domingos, todos os outros vêm atrás.
— Sente-se um treinador da moda?
—
É um termo que não me agrada muito, talvez possa ficar associado ao
momento porque venho de oito anos de trabalho positivo. Manuel José já
foi da moda, Fernando Santos, também, todos os treinadores tiveram o
seu período inicial de destaque, de lançamento. José Mourinho também
esteve na moda a seu tempo, mas ainda continua no topo, tal como os
outros dois. O meu desejo não é apenas este momento, é ainda estar na
moda aos 60 anos.
— Até onde ambiciona ir Paulo Sérgio?
— Desejo chegar ao top,
onde quer que isso seja. Não fui jogador de clube grande e não terminei
a licenciatura na Faculdade de Motricidade Humana, inscrevi-me em
informática de gestão enquanto jogava, para me precaver. Mas desde
sempre era isto que eu queria, tirei o primeiro nível com 23 anos,
depois fui tentando consolidar-me. Não tenho uma chave para abrir
algumas portas mas acredito naquilo que faço e investigo todos os dias.
Quero chegar ao máximo mas recuso-me a dizer que vou treinar um grande,
porque já estou num grande. Depois de Benfica, FC Porto e Sporting o
Vitória aparece a seguir na escala de valores, não há igual. Por isso,
seria falta de respeito dizer que sonho treinar um grande, já estou a
treinar um.
— Com quem ganhou inspiração ao longo dos tempos de jogador?
—
Comecei a carreira profissional no Belenenses, com 19 anos, quando
cheguei não tinha impacto mas tinha vontade e apanhei colegas com nível
elevadíssimo e me incutiram espírito de luta. Falo de Mladenov, que
vinha de um Mundial, era jogador conceituadíssimo, foi um privilégio
vê-lo treinar e jogar, ele ajudou-me imenso. O outro foi, pela questão
do jogador e do homem, o saber estar e procurar superação, José
António. Ele foi um capitão e um amigo, até com os mais novos se
preocupava em aconselhar como gastar o dinheiro. A sua morte foi uma
perda tremenda para nós. Digo ‘nós’ porque me sinto parte da família do
Belenenses.
— Enquanto treinador, quem será a sua fonte?
—
Todos os treinadores foram muito importantes naquilo que sou hoje, uns
por bons motivos, outros por maus. Dos que me marcaram negativamente
aprendi como não devo fazer, como não devo liderar... Pela positiva
quero destacar Abel Braga, tenho pena que não lhe tenham dado
oportunidade de passar por um grande, tinha todas as condições para
isso. Fiquei muito feliz por ter sido campeão do mundo com o
Internacional de Porto Alegre.
— Onde entram Mourinho e Jesualdo?
—
São dois nomes tremendos para o futebol português. O trajecto de
Mourinho fala por si, nem o quero bajular.... Jesualdo teve um trabalho
feito a pulso, deve dar-se importância aos anos de menos notoriedade e
que lhe permitiram consolidar aquilo que tem feito agora, as últimas
cinco épocas foram brilhantes. São personalidades diferentes e formas
de liderar também diferentes. Também tenho a minha, prefiro um mau
original a uma boa fotocópia, não procuro liderar à maneira de quem
quer que seja, lido de forma natural e espontânea com os jogadores, tal
como com as minhas filhas. A mesma forma de dar, a mesma exigência no
receber.
— Há quem lhe detecte algumas semelhanças com Jorge
Jesus. Ele gosta de pastilhas elásticas, você também, o discurso de
ambos é muito popular e vivo, dizem o que têm a dizer. Mas você marca
ainda a relação como popular e anda de boné na cabeça...
—
Sou um grande admirador do trabalho dele, mas não há dois anos, há
muito mais tempo. Discuto e falo dos seus métodos com amigos meus que
foram treinados por ele e já tinha chegado a essa conclusão há muito
tempo. Jesus é bom há muitos anos. Ainda há dias conversava com Rui
Gregório e ambos destacávamos a grande capacidade de organização
defensiva do Benfica. A forma como o Benfica defende é excepcional.
Atacar bem sempre atacou, faz parte da sua história, mas defender
assim... duvido.