Avenida da Liberdade encheu para desespero dos automobilistas
Lisboa: Protesto reuniu quase metade dos que exercem a profissão
15 mil enfermeiros na rua
Ao
terceiro dia de greve, com adesão superior a 90% segundo o sindicato
representativo e de 80% segundo o Governo, os enfermeiros encheram a
avenida da Liberdade. Foram 15 mil, quase metade dos que exercem a
profissão, a desfilar em protesto desde o Ministério da Saúde até ao
Ministério das Finanças, tornando claro que não aceitam ganhar menos do
que outros licenciados e técnicos superiores da Função Pública. À
proposta do Ministério da Saúde de enfermeiros em início de carreira
continuarem a ganhar 1020 euros até 2014 – e só nessa altura passarem a
receber 1200 – disseram ontem um rotundo e sonoro "não".
Enfermeiros
de todo o País responderam à chamada para o protesto. Muitos fizeram
questão de vestir a bata branca que os identifica com a função que
desempenham, colando-lhe o autocolante azul com a frase 'estou em
greve'. Os estudantes, especialmente finalistas de Enfermagem, à beira
de entrar no mercado de trabalho, engrossaram as fileiras.
Os
manifestantes concentraram-se cerca das 14h30 à porta do Ministério da
Saúde e aí aprovaram a resolução ‘Pela Dignificação da Enfermagem e
Valorização dos Enfermeiros’, entregue pelos dirigentes sindicais na
recepção. Pelas 15h30 rumaram ao Terreiro do Paço, onde está situado o
Ministério das Finanças, levando os automobilistas que circulavam no
centro da cidade ao desespero. 'Respeito, sim! Humilhação, não!',
'Enfermagem unida jamais será vencida' e 'Ministra, escuta, os
enfermeiros estão em luta' foram palavras de ordem gritadas durante a
marcha de protesto, que decorreu ordeiramente sob vigilância da PSP.
O
momento de maior tensão ocorreu quando no Terreiro do Paço um
enfermeiro queimou a bata. 'Luto por uma causa justa', disse ao polícia
que extinguiu as chamas.
'Foi a maior
manifestação desde 1976', garantiu José Carlos Martins, coordenador
nacional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, admitindo a
radicalização do protesto, que passa nomeadamente pela paralisação dos
blocos operatórios.
EXPLICAÇÃO PARA OS UTENTES
A
greve dos enfermeiros afectouo funcionamento de blocos operatórios,
consultas nos hospitais e centros de saúde e cuidados domiciliários. Os
enfermeiros sabem que muitos dos utentes se sente penalizada por esta
luta, daí que tenham elaborado e distribuído ontem um folheto que lhes
é dirigido e em que explicam as suas razões.
TOPO DA CARREIRA EM CAUSA
Para
além da questão salarial, o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses
critica a proposta do Governo segundo a qual a remuneração dos actuais
enfermeiros-chefes e supervisores, que gerem e articulam as equipas de
enfermagem, seria inferior aos enfermeiros da prestação directa de
cuidados. Outra questão prende-se com a limitação do acesso ao topo da
carreira.
MAIS DE CEM AUTOCARROS PARA LISBOA
De
Trás-os-Montes, do Minho, do Algarve. De norte a sul do País os
enfermeiros rumaram a Lisboa nos seus automóveis e em 120 autocarros
disponibilizados pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.
Só
do Porto partiram, ao que o CM apurou, trinta autocarros com 1500
profissionais de enfermagem. De Matosinhos arrancaram dez viaturas e da
região do Minho 19. Nas bagageiras acomodaram-se milhares de bandeiras
vermelhas e brancas do SEP. 'É cansativo mas vale a pena', comentou uma
enfermeira de Trás-os-Montes, sabendo que a marcha se encaminhava para
o Ministério das Finanças, mas desconhecendo exactamente onde, na
cidade, trabalha a equipa de Teixeira dos Santos. 'O sr. Teixeira
também tem culpa', garantia, diante do megafone e sempre em movimento,
outro enfermeiro, apelando à mobilização. 'Não paramos, não paramos',
entoavam centenas de jovens enfermeiros cuja presença foi muito notada
na manifestação de ontem, lembrando o slogan que terão gritado quando
estudavam: 'Não pagamos, não pagamos [propinas].'
DEPOIMENTOS
'MENOS 500 EUROS EM INÍCIO DE CARREIRA', Vítor Antunes, Torres Vedras
'Os
enfermeiros em início de carreira ganham menos 500 euros em relação aos
outros licenciados da Função Pública. Eu trabalho há 18 anos e o meu
salário-base é 1300 euros.'
'SALÁRIO DE BACHAREL ATÉ 2014 É INDIGNO', Vítor Serápio, Faro
'Acabo
o curso este anoe estou indignado porque o Ministério pretende manter
até 2014 o ordenado de bacharel para os enfermeiros em início de
carreira.'
'QUERO RESPEITO PELOS PROFISSIONAIS', Isabel Pinto, Vila Verde
'Sou
enfermeira há 28 anos. No topo da carreira ganho 1500 euros. Fiz a
licenciatura e continuei a receber como se fosse bacharel. O que peço é
que nos respeitem.'
'NOVAS E MAIS RADICAIS FORMAS DE LUTA', José Carlos Martins, Lisboa
'Na
qualidade de dirigente sindical, asseguro que estamos dispostos a
encetar novas e mais radicais formasde luta, mas só se o Ministérioda
Saúde nos empurrar para isso.'
GOVERNO ESPERA FIM DO PROTESTO PARA NEGOCIAR
O
primeiro ministro garantiu ontem, à saída do debate quinzenal na
Assembleia da República, não temer a contestação dos enfermeiros, mesmo
se antes afirmara que o Governo aguardava o fim do protesto para
regressar 'rapidamente à mesa negocial'. José Sócrates respondia à
interpelação do deputado comunista Jerónimo de Sousa, que pediu ao
Governo para ouvir os enfermeiros. Na manifestação estiveram os
deputados Bernardino Soares, do PCP, e Francisco Louçã, do BE, para
quem a luta dos enfermeiros já começara a dar frutos. 'O Governo
começou por dizer que só aceitava os 1020euros, mas vai a manifestação
a meio já contrapropõe com 1200 euros.' Mas a ministra 'omitiu que esse
valor só será pago em 2014', criticou o sindicato.
PORMENORES
ADESÃO À GREVE
O
terceiro dia de greve dos enfermeiros registou uma adesão de 85,86 por
cento, segundo informação do Ministério da Saúde, e de 90,48 por cento
nas contas do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.
18 288 NÃO TRABALHAM
Dos
21 299 enfermeiros escalados para o serviço, 18 288 aderiram ontem à
greve. Os dados foram divulgados no site do Ministério da Saúde.
RECORDISTAS
A
adesão à greve foi ontem de cem por cento nos hospitais de Tondela,
Fundão, Montijo, Santiago do Cacém, Ponte de Lima, Faro e Portimão,
informou Guadalupe Simões, do SEP.
Lisboa: Protesto reuniu quase metade dos que exercem a profissão
15 mil enfermeiros na rua
Ao
terceiro dia de greve, com adesão superior a 90% segundo o sindicato
representativo e de 80% segundo o Governo, os enfermeiros encheram a
avenida da Liberdade. Foram 15 mil, quase metade dos que exercem a
profissão, a desfilar em protesto desde o Ministério da Saúde até ao
Ministério das Finanças, tornando claro que não aceitam ganhar menos do
que outros licenciados e técnicos superiores da Função Pública. À
proposta do Ministério da Saúde de enfermeiros em início de carreira
continuarem a ganhar 1020 euros até 2014 – e só nessa altura passarem a
receber 1200 – disseram ontem um rotundo e sonoro "não".
Enfermeiros
de todo o País responderam à chamada para o protesto. Muitos fizeram
questão de vestir a bata branca que os identifica com a função que
desempenham, colando-lhe o autocolante azul com a frase 'estou em
greve'. Os estudantes, especialmente finalistas de Enfermagem, à beira
de entrar no mercado de trabalho, engrossaram as fileiras.
Os
manifestantes concentraram-se cerca das 14h30 à porta do Ministério da
Saúde e aí aprovaram a resolução ‘Pela Dignificação da Enfermagem e
Valorização dos Enfermeiros’, entregue pelos dirigentes sindicais na
recepção. Pelas 15h30 rumaram ao Terreiro do Paço, onde está situado o
Ministério das Finanças, levando os automobilistas que circulavam no
centro da cidade ao desespero. 'Respeito, sim! Humilhação, não!',
'Enfermagem unida jamais será vencida' e 'Ministra, escuta, os
enfermeiros estão em luta' foram palavras de ordem gritadas durante a
marcha de protesto, que decorreu ordeiramente sob vigilância da PSP.
O
momento de maior tensão ocorreu quando no Terreiro do Paço um
enfermeiro queimou a bata. 'Luto por uma causa justa', disse ao polícia
que extinguiu as chamas.
'Foi a maior
manifestação desde 1976', garantiu José Carlos Martins, coordenador
nacional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, admitindo a
radicalização do protesto, que passa nomeadamente pela paralisação dos
blocos operatórios.
EXPLICAÇÃO PARA OS UTENTES
A
greve dos enfermeiros afectouo funcionamento de blocos operatórios,
consultas nos hospitais e centros de saúde e cuidados domiciliários. Os
enfermeiros sabem que muitos dos utentes se sente penalizada por esta
luta, daí que tenham elaborado e distribuído ontem um folheto que lhes
é dirigido e em que explicam as suas razões.
TOPO DA CARREIRA EM CAUSA
Para
além da questão salarial, o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses
critica a proposta do Governo segundo a qual a remuneração dos actuais
enfermeiros-chefes e supervisores, que gerem e articulam as equipas de
enfermagem, seria inferior aos enfermeiros da prestação directa de
cuidados. Outra questão prende-se com a limitação do acesso ao topo da
carreira.
MAIS DE CEM AUTOCARROS PARA LISBOA
De
Trás-os-Montes, do Minho, do Algarve. De norte a sul do País os
enfermeiros rumaram a Lisboa nos seus automóveis e em 120 autocarros
disponibilizados pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.
Só
do Porto partiram, ao que o CM apurou, trinta autocarros com 1500
profissionais de enfermagem. De Matosinhos arrancaram dez viaturas e da
região do Minho 19. Nas bagageiras acomodaram-se milhares de bandeiras
vermelhas e brancas do SEP. 'É cansativo mas vale a pena', comentou uma
enfermeira de Trás-os-Montes, sabendo que a marcha se encaminhava para
o Ministério das Finanças, mas desconhecendo exactamente onde, na
cidade, trabalha a equipa de Teixeira dos Santos. 'O sr. Teixeira
também tem culpa', garantia, diante do megafone e sempre em movimento,
outro enfermeiro, apelando à mobilização. 'Não paramos, não paramos',
entoavam centenas de jovens enfermeiros cuja presença foi muito notada
na manifestação de ontem, lembrando o slogan que terão gritado quando
estudavam: 'Não pagamos, não pagamos [propinas].'
DEPOIMENTOS
'MENOS 500 EUROS EM INÍCIO DE CARREIRA', Vítor Antunes, Torres Vedras
'Os
enfermeiros em início de carreira ganham menos 500 euros em relação aos
outros licenciados da Função Pública. Eu trabalho há 18 anos e o meu
salário-base é 1300 euros.'
'SALÁRIO DE BACHAREL ATÉ 2014 É INDIGNO', Vítor Serápio, Faro
'Acabo
o curso este anoe estou indignado porque o Ministério pretende manter
até 2014 o ordenado de bacharel para os enfermeiros em início de
carreira.'
'QUERO RESPEITO PELOS PROFISSIONAIS', Isabel Pinto, Vila Verde
'Sou
enfermeira há 28 anos. No topo da carreira ganho 1500 euros. Fiz a
licenciatura e continuei a receber como se fosse bacharel. O que peço é
que nos respeitem.'
'NOVAS E MAIS RADICAIS FORMAS DE LUTA', José Carlos Martins, Lisboa
'Na
qualidade de dirigente sindical, asseguro que estamos dispostos a
encetar novas e mais radicais formasde luta, mas só se o Ministérioda
Saúde nos empurrar para isso.'
GOVERNO ESPERA FIM DO PROTESTO PARA NEGOCIAR
O
primeiro ministro garantiu ontem, à saída do debate quinzenal na
Assembleia da República, não temer a contestação dos enfermeiros, mesmo
se antes afirmara que o Governo aguardava o fim do protesto para
regressar 'rapidamente à mesa negocial'. José Sócrates respondia à
interpelação do deputado comunista Jerónimo de Sousa, que pediu ao
Governo para ouvir os enfermeiros. Na manifestação estiveram os
deputados Bernardino Soares, do PCP, e Francisco Louçã, do BE, para
quem a luta dos enfermeiros já começara a dar frutos. 'O Governo
começou por dizer que só aceitava os 1020euros, mas vai a manifestação
a meio já contrapropõe com 1200 euros.' Mas a ministra 'omitiu que esse
valor só será pago em 2014', criticou o sindicato.
PORMENORES
ADESÃO À GREVE
O
terceiro dia de greve dos enfermeiros registou uma adesão de 85,86 por
cento, segundo informação do Ministério da Saúde, e de 90,48 por cento
nas contas do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.
18 288 NÃO TRABALHAM
Dos
21 299 enfermeiros escalados para o serviço, 18 288 aderiram ontem à
greve. Os dados foram divulgados no site do Ministério da Saúde.
RECORDISTAS
A
adesão à greve foi ontem de cem por cento nos hospitais de Tondela,
Fundão, Montijo, Santiago do Cacém, Ponte de Lima, Faro e Portimão,
informou Guadalupe Simões, do SEP.