Jesualdo e o seu “delfim”
Quando Académica e
Sporting não chegaram a acordo de verbas para a transferência de André
Villas Boas para Alvalade especulou-se que o FC Porto estaria a mover
interesses para segurar o treinador para a época seguinte. Pinto da
Costa classificou depois a notícia como uma «imbecilidade» mas de
qualquer forma este foi mais um motivo a assinalar a ascensão meteórica
de Villas Boas em Portugal.
Em apenas dois dias, o falhanço do
acordo com o Sporting e logo depois a hipotética ligação ao dragão
projectaram o treinador da Académica para um mundo de fantasia. Um
planeta, aliás, onde ele já estava inserido, pois pegou numa equipa de
um campeonato principal sem trabalho de base em qualquer outro escalão.
Villas Boas era, até chegar a Coimbra, mais fenómeno paralelo do jogo
do que propriamente personagem do próprio jogo, rentabilizava a sua
actividade na observação dos encontros dos adversários ainda que se
sentasse no banco de apoio a José Mourinho, com quem trabalhou durante
sete anos.
De qualquer forma, faça ou não parte do lote de
potencias sucessores a Jesualdo Ferreira, Villas Boas ganhou identidade
de base no FC Porto, primeiro com Robson e depois com Mourinho. O
treinador da Académica desprendeu-se de Mourinho, emancipou-se já
durante esta temporada mas há quem lhe detecte pormenores que o ligam à
fonte. A barba de três dias, os fatos, o discurso provocador, a
ambição...
Hoje, o velho mestre encontra o aluno que começa a
saber de mais. Jesualdo chega à meia final da Taça da Liga com
embalagem de 628 jogos, Villas Boas apresenta-se com 17 jogos a nível
oficial. São, portanto, 611 encontros a separá-los, um fenómeno que
encontra ainda diversas perspectivas pelo meio. Jesualdo ainda é do
tempo em que se assinalavam foras-de-jogo posicionais e em que o
guarda-redes podia receber a bola com as mãos a passe de um companheiro
de equipa, Villas Boas será treinador da era tecnológica, possivelmente
será durante a sua longa carreira que a FIFA vai assumir de vez o
recurso às imagens para decidir lances duvidosos.
A separar
Jesualdo e André, também, 31 anos de diferença e uma realidade que num
futuro não muito distante poderá ser entendida como coincidência
brutal: ambos têm a estreia absoluta de treinador assinalada ao serviço
da Académica.