O Sindicato de jogadores acabou de cumprir
mais um aniversário e Joaquim Evangelista não olha com tanto otimismo
para o futebol português como o faz em relação à instituição a que
preside. O líder sindical, de anos, continua a ser um agitador de
consciências mas mostra-se menos radical nalgumas situações. Ainda
assim, lança um apelo ao selecionador Carlos Queiroz para se envolver
mais na reforma que o futebol reclama.
RECORD - O Sindicato cumpriu 38 anos de vida. Faz um balanço
positivo?
JOAQUIM EVANGELISTA - O balanço é muito positivo.
São 38 anos de trabalho e com o contributo de grandes figuras do
futebol, desde Artur Jorge, o primeiro presidente, ao último, António
Carraça que dignificaram a instituição. Hoje, o Sindicato é uma
referência no plano interno mas também no plano internacional. Está
representado na FPF, no Conselho Nacional de Desporto, lideramos muitos
dos temas que são discutidos em Portugal. Lá fora estamos na FIFA, no
DRC que é a Câmara de disputas de litígios, no Tribunal Arbitral e fomos
agora distinguidos pela Agência Europeia para os Direitos Fundamentais.
Além de integrarmos a Fifpro e o board da divisão Europa do diálogo
social. Enfim, tudo isto é revelador da importância e do respeito que o
sindicato merece.
R - Com toda essa dinâmica sente-se um homem com poder no
futebol português?
JE - Nunca me coloquei essa questão. Faço
o meu trabalho com sentido de responsabilidade e sempre na defesa dos
interesses dos jogadores. Assumimos posições firmes, claras e
transparentes.
R - Mas tem essa noção?
JE - Tenho consciência de
que o sindicato é hoje uma voz ouvida.
R - E sobretudo incómoda?
JE - Também, mas estar
sempre e só do contra não é bem a nossa posição. Somos um sindicato
moderno, pessoa de bem e de diálogo, que não tem problemas em fazer
cedências para construir propostas. Aliás, tenho sido das poucas vozes a
exigir diálogo no futebol. Mas não me furto ao combate quando não há
alternativa. Apesar das instituições liderança do futebol português não
fazerem essa reflexão, não deixamos de encontrar os instrumentos para
colocar os assuntos na ordem do dia.
R- É muitas vezes acusado de contribuir para a má imagem do
futebol e pouco para a resolução dos problemas.
JE - Talvez
por aqueles que se furtam ao diálogo e que não têm ideias para o futebol
português.
R - Há poucos que tenham ideias?
JE - Já há
alguns mas não tantos como seria desejável. O facto de haver pouca gente
a discutir revela alguma pobreza na discussão dos problemas do futebol
português. Infelizmente, ainda há muitos que se agacham relativamente a
alguns poderes instituídos e interesses instalados e, assim, não há
evolução. Reconheço contributos importantes que permitem olhar para o
futuro com otimismo, tanto mais que estamos no fim de um ciclo natural
de algumas pessoas que não deixam fazer reformas.
R - Está a referir-se a Gilberto Madaíl?
JE - O
dr. Madaíl está a concluir um ciclo. Bom, nós não sabemos muito bem se
está ou não a concluir um ciclo...
R - Ele tem dito que está de saída...
JE - Já o
disse noutras vezes e não fechou o ciclo.
R - Mas Madaíl tem sido um travão a essas reformas?
JE
- Não, pelo contrário. Está ligado a um ciclo positivo no futebol
português, mas devemos constatar que o que aconteceu de positivo foi no
topo da pirâmide - o futebol profissional. Na base, continua tudo na
mesma. O futebol português está em crise porque a FPF não teve
capacidade de procurar um novo modelo. Aliás, fiquei satisfeito com a
escolha de Carlos Queiroz para selecionador, aceitando que até aqui
tivesse que se empenhar quase em exclusivo no apuramento da seleção para
o Mundial. Espero que agora tenha algum tempo para pensar e refletir na
reforma do futebol nacional, especialmente nos escalões mais jovens. As
gerações de oiro ou diamante no futebol português estão em risco.
R - Já se falou na saída de Madail e também na candidatura de
Luis Figo. Apoiava esta eventual candidatura?
JE - Claro
que sim. O sindicato, mais uma vez, tem sido das poucas instituições a a
exigir a presença de ex-jogadores nas estruturas do futebol e não
apenas na FPF.
R - Nos clubes começam a aparecer...
JE - É
verdade mas em relação ao que é prática na Europa ainda são poucos.
R - É uma questão de encontrar gente qualificada...
JE
- Isso é uma falácia! O que é qualificação do agente desportivo em
Portugal? É quem tem uma habilitação escolar? Se for por aí, vai ver que
até muitos dos presidentes dos clubes estão em desvantagem em relação
aos jogadores. A qualificação passa por aí, obviamente, mas passa também
por ter experiência e dominar a atividade.
R - E noções de gestão...
JE - Naturalmente, e se
há investimento que o sindicato tem feito tem sido precisamente nesta
valência através do programa das novas oportunidades, do programa
operacional do potencial humano promovido pela união europeia como
também através da academia online. Tenho consciência que a um jogador
não basta querer ser dirigente é preciso qualificar-se. Agora, não
aceito que esta exigência só seja feita aos jogadores. Aqueles que estão
no ativo têm demonstrado capacidade para estas soluções. Dou-lhe o
exemplo do João Vieira Pinto, um vice-presidente de que o Sindicato se
orgulha. Tem revelado uma capacidade de adaptação, uma serenidade, uma
ponderação, sendo uma mais valia para o desporto. O Vítor Baía é outro
exemplo. Eles vão fazer parte do futuro do futebol português.
"Acredito nos jogadores e em Carlos Queiroz"
R - Temeu que Portugal não fosse ao Mundial?
JE -
Não. Sou um optimista. Tenho muita confiança nos nossos jogadores.
R - E no selecionador?
JE - Também. Admito que
houve uma divergência quando teci comentários acerca dos critérios das
naturalizações. Vejam que a FIFA está a discutir essa questão neste
momento. Ele ficou aborrecido mas acho que já passou. Acredito que seja o
homem certo para contribuir para as reformas do futebol na FPF. Tem
aliás um mérito: levou ex-jogadores para os quadros técnicos.
R - Não foi dos que reclamou a demissão de Carlos Queiroz
após o incidente com um comentador.
JE - Foi um episódio
censurável, mas creio que já ultrapassado.
R - Será pedida intervenção do sindicato para negociar
prémios?
JE - Havia esse hábito, mas não faço questão de
entrar nessa discussão. Se os jogadores entenderem que o sindicato deve
estar presente, tudo bem. Só desejo que não se deixem instrumentalizar e
saibam negociar os seus direitos.
A revisão dos estatutos da FPF: "Assim que a torneira fechar
resolve-se logo o problema"
R - Sindicato integra comissão para proposta de revisão dos
estatutos da FPF. Está a esgotar-se o prazo para adequá-los ao novo
regime jurídico...
JE - Não podemos adiar os problemas. O
Sindicato até pode perder alguma representatividade e isso não me
incomoda, pois sabemos em cada momento marcar uma posição. Somos capazes
de fazer o nosso trabalho e não tem que ser necessariamente na
assembleia geral. O problema é que o movimento associativo não quer
perder o seu estatuto. Incomoda-me que não haja a capacidade de olhar
para o todo e que se continue a olhar para o seu umbigo.
R - Madail já não pode fazer mais nada?
JE - O
dr. Madaíl tem razão quando diz que os estatutos estão em conformidade
com a lei e com a FIFA e só o pensamento das associações é que não está
em conformidade com os estatutos. É preciso dizer também que apesar de
haver muitas associações, a verdade é que só quatro ou cinco é que
decidem.
R - E como é que se vai resolver a questão?
JE -
Quando o secretário de Estado tomar as medidas adequadas, imediatamente
as associações vão mudar de posição, pois estamos a falar do
financiamento. Assim que fechar a torneira, vai ver que a questão
resolve-se.
Classifica de positivo o trabalho de Hermínio Loureiro:
"Jogadores também na direção da Liga"
R - Hermínio Loureiro também está em fim de ciclo. Quem pode
ser um bom presidente da Liga?
JE - Ficava mal estar a
indicar nomes. Tem de ser uma pessoa que mereça a concordância dos
clubes. Gostava de ver outros protagonistas, mas era bom que tivesse a
coragem para convencer os clubes da necessidade de se fazer acompanhar
por alguém que representasse os jogadores, como o João Pinto ou o
Fernando Couto. Espero que o futuro presidente da Liga que dê
continuidade àquilo que Hermínio Loureiro fez. Há que reconhecer o
trabalho positivo que desenvolveu, designadamente do ponto de vista
económico
mais um aniversário e Joaquim Evangelista não olha com tanto otimismo
para o futebol português como o faz em relação à instituição a que
preside. O líder sindical, de anos, continua a ser um agitador de
consciências mas mostra-se menos radical nalgumas situações. Ainda
assim, lança um apelo ao selecionador Carlos Queiroz para se envolver
mais na reforma que o futebol reclama.
RECORD - O Sindicato cumpriu 38 anos de vida. Faz um balanço
positivo?
JOAQUIM EVANGELISTA - O balanço é muito positivo.
São 38 anos de trabalho e com o contributo de grandes figuras do
futebol, desde Artur Jorge, o primeiro presidente, ao último, António
Carraça que dignificaram a instituição. Hoje, o Sindicato é uma
referência no plano interno mas também no plano internacional. Está
representado na FPF, no Conselho Nacional de Desporto, lideramos muitos
dos temas que são discutidos em Portugal. Lá fora estamos na FIFA, no
DRC que é a Câmara de disputas de litígios, no Tribunal Arbitral e fomos
agora distinguidos pela Agência Europeia para os Direitos Fundamentais.
Além de integrarmos a Fifpro e o board da divisão Europa do diálogo
social. Enfim, tudo isto é revelador da importância e do respeito que o
sindicato merece.
R - Com toda essa dinâmica sente-se um homem com poder no
futebol português?
JE - Nunca me coloquei essa questão. Faço
o meu trabalho com sentido de responsabilidade e sempre na defesa dos
interesses dos jogadores. Assumimos posições firmes, claras e
transparentes.
R - Mas tem essa noção?
JE - Tenho consciência de
que o sindicato é hoje uma voz ouvida.
R - E sobretudo incómoda?
JE - Também, mas estar
sempre e só do contra não é bem a nossa posição. Somos um sindicato
moderno, pessoa de bem e de diálogo, que não tem problemas em fazer
cedências para construir propostas. Aliás, tenho sido das poucas vozes a
exigir diálogo no futebol. Mas não me furto ao combate quando não há
alternativa. Apesar das instituições liderança do futebol português não
fazerem essa reflexão, não deixamos de encontrar os instrumentos para
colocar os assuntos na ordem do dia.
R- É muitas vezes acusado de contribuir para a má imagem do
futebol e pouco para a resolução dos problemas.
JE - Talvez
por aqueles que se furtam ao diálogo e que não têm ideias para o futebol
português.
R - Há poucos que tenham ideias?
JE - Já há
alguns mas não tantos como seria desejável. O facto de haver pouca gente
a discutir revela alguma pobreza na discussão dos problemas do futebol
português. Infelizmente, ainda há muitos que se agacham relativamente a
alguns poderes instituídos e interesses instalados e, assim, não há
evolução. Reconheço contributos importantes que permitem olhar para o
futuro com otimismo, tanto mais que estamos no fim de um ciclo natural
de algumas pessoas que não deixam fazer reformas.
R - Está a referir-se a Gilberto Madaíl?
JE - O
dr. Madaíl está a concluir um ciclo. Bom, nós não sabemos muito bem se
está ou não a concluir um ciclo...
R - Ele tem dito que está de saída...
JE - Já o
disse noutras vezes e não fechou o ciclo.
R - Mas Madaíl tem sido um travão a essas reformas?
JE
- Não, pelo contrário. Está ligado a um ciclo positivo no futebol
português, mas devemos constatar que o que aconteceu de positivo foi no
topo da pirâmide - o futebol profissional. Na base, continua tudo na
mesma. O futebol português está em crise porque a FPF não teve
capacidade de procurar um novo modelo. Aliás, fiquei satisfeito com a
escolha de Carlos Queiroz para selecionador, aceitando que até aqui
tivesse que se empenhar quase em exclusivo no apuramento da seleção para
o Mundial. Espero que agora tenha algum tempo para pensar e refletir na
reforma do futebol nacional, especialmente nos escalões mais jovens. As
gerações de oiro ou diamante no futebol português estão em risco.
R - Já se falou na saída de Madail e também na candidatura de
Luis Figo. Apoiava esta eventual candidatura?
JE - Claro
que sim. O sindicato, mais uma vez, tem sido das poucas instituições a a
exigir a presença de ex-jogadores nas estruturas do futebol e não
apenas na FPF.
R - Nos clubes começam a aparecer...
JE - É
verdade mas em relação ao que é prática na Europa ainda são poucos.
R - É uma questão de encontrar gente qualificada...
JE
- Isso é uma falácia! O que é qualificação do agente desportivo em
Portugal? É quem tem uma habilitação escolar? Se for por aí, vai ver que
até muitos dos presidentes dos clubes estão em desvantagem em relação
aos jogadores. A qualificação passa por aí, obviamente, mas passa também
por ter experiência e dominar a atividade.
R - E noções de gestão...
JE - Naturalmente, e se
há investimento que o sindicato tem feito tem sido precisamente nesta
valência através do programa das novas oportunidades, do programa
operacional do potencial humano promovido pela união europeia como
também através da academia online. Tenho consciência que a um jogador
não basta querer ser dirigente é preciso qualificar-se. Agora, não
aceito que esta exigência só seja feita aos jogadores. Aqueles que estão
no ativo têm demonstrado capacidade para estas soluções. Dou-lhe o
exemplo do João Vieira Pinto, um vice-presidente de que o Sindicato se
orgulha. Tem revelado uma capacidade de adaptação, uma serenidade, uma
ponderação, sendo uma mais valia para o desporto. O Vítor Baía é outro
exemplo. Eles vão fazer parte do futuro do futebol português.
"Acredito nos jogadores e em Carlos Queiroz"
R - Temeu que Portugal não fosse ao Mundial?
JE -
Não. Sou um optimista. Tenho muita confiança nos nossos jogadores.
R - E no selecionador?
JE - Também. Admito que
houve uma divergência quando teci comentários acerca dos critérios das
naturalizações. Vejam que a FIFA está a discutir essa questão neste
momento. Ele ficou aborrecido mas acho que já passou. Acredito que seja o
homem certo para contribuir para as reformas do futebol na FPF. Tem
aliás um mérito: levou ex-jogadores para os quadros técnicos.
R - Não foi dos que reclamou a demissão de Carlos Queiroz
após o incidente com um comentador.
JE - Foi um episódio
censurável, mas creio que já ultrapassado.
R - Será pedida intervenção do sindicato para negociar
prémios?
JE - Havia esse hábito, mas não faço questão de
entrar nessa discussão. Se os jogadores entenderem que o sindicato deve
estar presente, tudo bem. Só desejo que não se deixem instrumentalizar e
saibam negociar os seus direitos.
A revisão dos estatutos da FPF: "Assim que a torneira fechar
resolve-se logo o problema"
R - Sindicato integra comissão para proposta de revisão dos
estatutos da FPF. Está a esgotar-se o prazo para adequá-los ao novo
regime jurídico...
JE - Não podemos adiar os problemas. O
Sindicato até pode perder alguma representatividade e isso não me
incomoda, pois sabemos em cada momento marcar uma posição. Somos capazes
de fazer o nosso trabalho e não tem que ser necessariamente na
assembleia geral. O problema é que o movimento associativo não quer
perder o seu estatuto. Incomoda-me que não haja a capacidade de olhar
para o todo e que se continue a olhar para o seu umbigo.
R - Madail já não pode fazer mais nada?
JE - O
dr. Madaíl tem razão quando diz que os estatutos estão em conformidade
com a lei e com a FIFA e só o pensamento das associações é que não está
em conformidade com os estatutos. É preciso dizer também que apesar de
haver muitas associações, a verdade é que só quatro ou cinco é que
decidem.
R - E como é que se vai resolver a questão?
JE -
Quando o secretário de Estado tomar as medidas adequadas, imediatamente
as associações vão mudar de posição, pois estamos a falar do
financiamento. Assim que fechar a torneira, vai ver que a questão
resolve-se.
Classifica de positivo o trabalho de Hermínio Loureiro:
"Jogadores também na direção da Liga"
R - Hermínio Loureiro também está em fim de ciclo. Quem pode
ser um bom presidente da Liga?
JE - Ficava mal estar a
indicar nomes. Tem de ser uma pessoa que mereça a concordância dos
clubes. Gostava de ver outros protagonistas, mas era bom que tivesse a
coragem para convencer os clubes da necessidade de se fazer acompanhar
por alguém que representasse os jogadores, como o João Pinto ou o
Fernando Couto. Espero que o futuro presidente da Liga que dê
continuidade àquilo que Hermínio Loureiro fez. Há que reconhecer o
trabalho positivo que desenvolveu, designadamente do ponto de vista
económico