Paula Nunes, tia de Leando |
O Ministério Público concluiu que Leandro faltou a uma aula antes de
almoço por se ter desentendido com um colega e, à mesa da cantina, foi
ameaçado. Saiu a correr da escola com os primos e irmão atrás. A EB 2,3
Luciano Cordeiro não tinha ninguém a vigiar o portão.O
Ministério Público tem praticamente concluído o inquérito de
averiguações ao caso do rapaz de 12 anos que se atirou ao rio Tua, em
Mirandela, e continua desaparecido desde terça-feira. Já foram ouvidos
familiares, elementos da direcção da escola e testemunhas que viram as
crianças desde a saída do estabelecimento de ensino até ao parque de
merendas, de onde Leandro se lançou à água. Ao que o JN apurou, a
meio da manhã de terça-feira, Leandro Pires e um colega protagonizaram
um desentendimento, levando o rapaz a faltar a uma aula. No refeitório,
amigos do outro aluno tê-lo-ão ameaçado, o que o levou a dizer que "iria
atirar-se ao rio". Fugiu para a saída e, nessa altura, várias crianças,
entre elas os primos, foram atrás, saindo todos pelo portão principal
da escola, onde não haveria vigilante.A primeira tentativa de
impedir Leandro de se atirar ao rio aconteceu a meio da ponte açude,
quando um primo o agarrou. No entanto, ao ser retirado, voltou a correr
em direcção às escadas de acesso ao parque de merendas, deixando os
restantes miúdos a uma distância considerável, suficiente para retirar a
roupa e lançar-se ao rio.No entanto, alguns segundos depois de
Leandro ter-se lançado ao rio, uma das crianças que o seguiu pediu ajuda
a um casal de namorados. A rapariga descalçou-se e entrou no rio, mas a
forte corrente travou o ímpeto da jovem, que só viu Leandro ser
arrastado.Inquérito na escolaO inquérito
do Ministério Público deve estar concluído no início da semana. Já o que
está a decorrer na Escola Luciano Cordeiro, para averiguar o que terá
acontecido no recinto escolar, deverá estar pronto na terça-feira. Entre
as pessoas com quem a escola falou sobre o assunto não estiveram ainda
incluídos os pais da criança. "Estamos sempre com eles e sabemos que
ainda ninguém da escola os contactou", afirma Paula Nunes, tia de
Leandro.Silêncio absolutoAté à conclusão
do inquérito, a direcção do agrupamento e a Associação de Pais vão
remeter-se ao silêncio. Essa foi uma das deliberações que saiu de uma
reunião dos órgãos directivos da Associação de Pais e da escola. Numa
nota informativa, a associação faz saber que, "tendo em conta o superior
interesse dos alunos", vai aguardar o resultado do processo em curso,
remetendo para o seu final "eventuais declarações". No entanto,
na mesma nota, a associação diz ser "conhecedora das ocorrências
disciplinares participadas na escola e está certa que serão devidamente
tratadas à luz do estatuto do aluno e do regulamento interno do
agrupamento". Nesta informação, a associação que representa os pais
expressa "o pesar e solidariedade" com a dor da família do rapaz. A
tia de Leandro diz também já ter contado à Polícia que a mãe de uma
rapariga que, alegadamente, esteve envolvida no caso das agressões ao
menino, ameaçou os primos dele. "Na quinta-feira, perseguiu o autocarro
que transporta os miúdos para a aldeia de Cedaínhos e ameaçou-os dizendo
que, se se metessem com a filha, tinham de ver-se com ela", conta .Também
alguns pais afirmam que, após revelarem episódios de violência na
escola, foram alvo de retaliações. "A directora de turma da minha filha
disse-lhe que os pais não devem meter-se no caso", conta Lucilene
Correia, que denunciou um caso de agressão à filha, em Abril do ano
passado, que ainda está em tribunal.Entretanto, para
segunda-feira à tarde, está a ser preparada, por um grupo de pais, uma
marcha lenta de solidariedade para com a família de Leandro, entre a
escola e o local da tragédia.