Pouco participativos na vida política, mas activos na economia e
fortemente enraizados na África do Sul, os portugueses encaram as
eleições gerais de quarta-feira com a mesma tranquilidade em que a
campanha eleitoral decorreu, escreve a Lusa. Ao
contrário do que sucedeu nas eleições gerais de 1994, quando milhares
saíram do país durante o período eleitoral, caracterizado por uma
violência generalizada, os portugueses da África do Sul estão agora
expectantes, mas tranquilos. Comunidade
lusa é «apática em termos políticos» Embora
um luso-descedente se perfile, pela primeira vez desde que foi
instituída a ordem democrática, como candidato à Assembleia Nacional, a
comunidade lusa é de uma forma geral «apática em termos políticos»,
como refere o advogado José Nascimento. Militante
assumido do Congresso Nacional Africano (ANC), no poder desde 1994,
Nascimento promoveu, através da Aliança HIP (Helénica, Italiana e
Portuguesa), um lobby para aproximar as comunidades estrangeiras do
partido no poder, que incluiu vários encontros nos últimos meses com
altas figuras do Estado e do partido no poder. Essa
«ponte» permitiu um diálogo, embora pouco participado, entre o ANC e as
comunidades estrangeiras, designadamente a portuguesa, no qual o papel
dos portugueses e luso-descedentes na economia e na sociedade
sul-africanas foi realçado aos olhos de um partido historicamente mais
vocacionado para satisfazer a chamada maioria negra do que os grupos
étnicos brancos. «Os
encontros que promovemos entre as comunidades e Jacob Zuma (o provável
futuro chefe do Estado), Kgalema Mothlante (o actual), o ministro das
Finanças, Trevor Manuel, e alguns empresários (...) tiveram o efeito
desejado, mas é um facto que os portugueses, que insistem em adoptar a
apatia própria dos emigrantes mais velhos perante a política, não
participam nem nas eleições sul-africanas nem nas portuguesas»,
salienta José Nascimento. Atitude
positiva e sempre intervencionista tem tido, há mais de 14 anos, Manuel
(Manny) de Freitas, um luso-sul-africano candidato ao parlamento nas
listas da oposição oficial, a Aliança Democrática (DA). «Voar» até à Assembleia Nacional Depois
de ocupar vários cargos de direcção, a nível da província de Gauteng
(onde se situam Joanesburgo e Pretória), que incluiu a de vereador na
câmara de Joanesburgo e membro do parlamento regional, Freitas vai
agora muito provavelmente «voar» até à Assembleia Nacional, mudando-se
para a Cidade do Cabo, onde está sediado o hemiciclo. «Tenho origem
portuguesa e nunca o escondi, cheguei mesmo a vestir-me com roupas
tradicionais madeirenses numa sessão de abertura do parlamento
provincial de Gauteng, uma ocasião onde os representantes eleitos
envergam com orgulho os seus trajes tradicionais, sejam eles zulus,
xhosas ou de outra etnia qualquer», recorda Manuel de Freitas, que é
também membro do Conselho das Comunidades Portuguesas. «Para
nós o que é importante é que haja paz social, que a criminalidade seja
reduzida e que o futuro (provável) Presidente, Jacob Zuma, tenha a
noção exacta de que os portugueses foram e são baluartes do crescimento
económico da África do Sul», refere, por seu lado, o conselheiro
comunitário Silvino Silvério Silva. No cenário político sul-africano pós-1994 é difícil atrair os portugueses e seus descendentes para
a área política do ANC, uma força que governa para a chamada maioria negra. «È
verdade que é extremamente difícil mobilizar portugueses para o partido
no poder, uma vez que, sendo brancos, eles deparam-se com sérios
problemas no mercado de trabalho, os seus filhos são muitas vezes
obrigados a emigrar porque nas grandes empresas e nas universidades
públicas os bons empregos e as vagas estão reservados para os negros,
mas há razões históricas que justificam esta política de acção
afirmativa», admite José Nascimento.
fortemente enraizados na África do Sul, os portugueses encaram as
eleições gerais de quarta-feira com a mesma tranquilidade em que a
campanha eleitoral decorreu, escreve a Lusa. Ao
contrário do que sucedeu nas eleições gerais de 1994, quando milhares
saíram do país durante o período eleitoral, caracterizado por uma
violência generalizada, os portugueses da África do Sul estão agora
expectantes, mas tranquilos. Comunidade
lusa é «apática em termos políticos» Embora
um luso-descedente se perfile, pela primeira vez desde que foi
instituída a ordem democrática, como candidato à Assembleia Nacional, a
comunidade lusa é de uma forma geral «apática em termos políticos»,
como refere o advogado José Nascimento. Militante
assumido do Congresso Nacional Africano (ANC), no poder desde 1994,
Nascimento promoveu, através da Aliança HIP (Helénica, Italiana e
Portuguesa), um lobby para aproximar as comunidades estrangeiras do
partido no poder, que incluiu vários encontros nos últimos meses com
altas figuras do Estado e do partido no poder. Essa
«ponte» permitiu um diálogo, embora pouco participado, entre o ANC e as
comunidades estrangeiras, designadamente a portuguesa, no qual o papel
dos portugueses e luso-descedentes na economia e na sociedade
sul-africanas foi realçado aos olhos de um partido historicamente mais
vocacionado para satisfazer a chamada maioria negra do que os grupos
étnicos brancos. «Os
encontros que promovemos entre as comunidades e Jacob Zuma (o provável
futuro chefe do Estado), Kgalema Mothlante (o actual), o ministro das
Finanças, Trevor Manuel, e alguns empresários (...) tiveram o efeito
desejado, mas é um facto que os portugueses, que insistem em adoptar a
apatia própria dos emigrantes mais velhos perante a política, não
participam nem nas eleições sul-africanas nem nas portuguesas»,
salienta José Nascimento. Atitude
positiva e sempre intervencionista tem tido, há mais de 14 anos, Manuel
(Manny) de Freitas, um luso-sul-africano candidato ao parlamento nas
listas da oposição oficial, a Aliança Democrática (DA). «Voar» até à Assembleia Nacional Depois
de ocupar vários cargos de direcção, a nível da província de Gauteng
(onde se situam Joanesburgo e Pretória), que incluiu a de vereador na
câmara de Joanesburgo e membro do parlamento regional, Freitas vai
agora muito provavelmente «voar» até à Assembleia Nacional, mudando-se
para a Cidade do Cabo, onde está sediado o hemiciclo. «Tenho origem
portuguesa e nunca o escondi, cheguei mesmo a vestir-me com roupas
tradicionais madeirenses numa sessão de abertura do parlamento
provincial de Gauteng, uma ocasião onde os representantes eleitos
envergam com orgulho os seus trajes tradicionais, sejam eles zulus,
xhosas ou de outra etnia qualquer», recorda Manuel de Freitas, que é
também membro do Conselho das Comunidades Portuguesas. «Para
nós o que é importante é que haja paz social, que a criminalidade seja
reduzida e que o futuro (provável) Presidente, Jacob Zuma, tenha a
noção exacta de que os portugueses foram e são baluartes do crescimento
económico da África do Sul», refere, por seu lado, o conselheiro
comunitário Silvino Silvério Silva. No cenário político sul-africano pós-1994 é difícil atrair os portugueses e seus descendentes para
a área política do ANC, uma força que governa para a chamada maioria negra. «È
verdade que é extremamente difícil mobilizar portugueses para o partido
no poder, uma vez que, sendo brancos, eles deparam-se com sérios
problemas no mercado de trabalho, os seus filhos são muitas vezes
obrigados a emigrar porque nas grandes empresas e nas universidades
públicas os bons empregos e as vagas estão reservados para os negros,
mas há razões históricas que justificam esta política de acção
afirmativa», admite José Nascimento.