Porque o feitio e as lesões o traíram. O homem que senta Aimar já foi ao
céu e ao inferno. "Agora sabe escolher", diz quem o conhece................
Oiça o que lhe digo. Tivesse sido ele regular durante a sua
carreira e agora a selecção nacional seria ele e mais 10."
Carlos
Pereira, antigo adjunto de Paulo Bento no Sporting,
conhece Carlos Martins desde miúdo. Lembra-se de tudo:
de o ver chegar a Alvalade com 11 anos porque tinha jeito, de o ver
partir aos 12 porque tinha saudades da família e de Gavinhos de Cima
(Oliveira do Hospital) e de o ver regressar tempos depois porque era
talentoso. Martins era um puto fora de série criado na Beira, entre os
remates contra os portões de chapa da vizinhança e os joguinhos do
ringue que não gostava de perder por nada. Quando chegou ao Sporting
para ficar começou a somar internacionalizações nos escalões jovens das
selecções - daí à profissionalização foi um pequeno passo e uma grande
cláusula de rescisão. Num ápice, Martins passava a aparecer nos jornais
como a maior promessa do futebol português, um 10 à imagem de
Rui Costa, que idolatrava tanto como Zidane.
"Tinha tudo: remate, capacidade técnica e física e de passe", diz Carlos
Pereira. Mas falhou qualquer coisa no caminho para a glória:
em 2001 foi emprestado ao Campomaiorense; no ano
seguinte, 2002, faz uma metade da época em Alvalade e a
outra na Académica; e entre 2003 e 2007 fixa
finalmente residência em Lisboa mas nunca na equipa
titular. A carreira fez-se de fogachos, de alguns altos (a temporada
2004/05, com José Peseiro e o golo no 2-0 ao FC
Porto) e muitos baixos (lesões). Célebre ficou a expulsão
em Belém (2006/07), em que viu os cartões amarelos em minutos
consecutivos (66' e 67') e o pedido para ser visto por um especialista
alemão para tratar do físico, que o traía constantemente.
"Descobriu-se
que tinha um desvio na coluna", relembra Carlos
Pereira. Com uma palmilha dentro da bota, lá se pensou que as
mazelas tinham acabado. Ficava por resolver a relação complicada com Paulo
Bento. "Aqueles que quiserem vir para a guerra montem nas
minhas costas", disse Bento quando a corda entre o
clube e Martins estava esticada ao máximo. Fora das
opções do treinador, tapado por outros talentos emergentes, como Moutinho
e Veloso, a saída de Carlos Martins
torna-se inevitável: transfere-se para o Recreativo de Huelva
e dá uma entrevista ao "Record" em que diz cobras e lagartos dos de
Alvalade, mas sobretudo de Bento - acusou-o de
aconselhar Scolari a não o convocar para a selecção e
de o empurrar para fora do Sporting. Bento
reagiu: "Não atingiu estatuto para influenciar ninguém." Já Scolari
escreveria no livro dele que Martins o desiludiu. "As
entrevistas dele... Até disse que a comida de Alvalade se colava às
paredes", diz Carlos Pereira.
RECREATIVO
Em Espanha, Carlos Martins ganha ritmo e jogos nas
pernas numa equipa de segunda linha. O que se seguiu, ninguém o
esperava. Muito menos ele. "Quando o Rui Costa me
telefonou até pensei que fosse um apanhado", disse Martins ao "Record". O
Benfica contratou-o e apresentou-o como sucessor de
Rui Costa - e isto dito pelo próprio Maestro. Depois Carlos
Queiroz chamou-o para o particular com as Ilhas Faroé (um
golo) e para a primeira ronda de qualificação do Mundial,
com Malta: foi titular em ambos mas nunca mais lá
jogou. No Benfica de Quique começou
titular mas perdeu o fulgor com lesões e opções - ainda assim, partilhou
o estatuto de herói da Taça da Liga com Quim,
por ter marcado o penálti decisivo.
Com Jorge Jesus,
o cenário parecia manter-se: suplente de Aimar, o português foi
esperando a sua hora. Que chegou quando o argentino entrou em perda
física. Já leva oito golos (a melhor época de sempre), alguns
importantes, como aquele frente ao FC Porto na Taça da Liga e o bis ao
V. Guimarães para a Liga - jogo em que acabou expulso por acumulação.
"Mas nota-se que amadureceu, fez as suas escolhas e já distingue o que é
bom e mau. Está mais maduro. Tinha tudo para ser dos maiores", diz
Carlos Pereira. Ainda vai a tempo? "Nunca é tarde."
Tem 27 anos.
céu e ao inferno. "Agora sabe escolher", diz quem o conhece................
Oiça o que lhe digo. Tivesse sido ele regular durante a sua
carreira e agora a selecção nacional seria ele e mais 10."
Carlos
Pereira, antigo adjunto de Paulo Bento no Sporting,
conhece Carlos Martins desde miúdo. Lembra-se de tudo:
de o ver chegar a Alvalade com 11 anos porque tinha jeito, de o ver
partir aos 12 porque tinha saudades da família e de Gavinhos de Cima
(Oliveira do Hospital) e de o ver regressar tempos depois porque era
talentoso. Martins era um puto fora de série criado na Beira, entre os
remates contra os portões de chapa da vizinhança e os joguinhos do
ringue que não gostava de perder por nada. Quando chegou ao Sporting
para ficar começou a somar internacionalizações nos escalões jovens das
selecções - daí à profissionalização foi um pequeno passo e uma grande
cláusula de rescisão. Num ápice, Martins passava a aparecer nos jornais
como a maior promessa do futebol português, um 10 à imagem de
Rui Costa, que idolatrava tanto como Zidane.
"Tinha tudo: remate, capacidade técnica e física e de passe", diz Carlos
Pereira. Mas falhou qualquer coisa no caminho para a glória:
em 2001 foi emprestado ao Campomaiorense; no ano
seguinte, 2002, faz uma metade da época em Alvalade e a
outra na Académica; e entre 2003 e 2007 fixa
finalmente residência em Lisboa mas nunca na equipa
titular. A carreira fez-se de fogachos, de alguns altos (a temporada
2004/05, com José Peseiro e o golo no 2-0 ao FC
Porto) e muitos baixos (lesões). Célebre ficou a expulsão
em Belém (2006/07), em que viu os cartões amarelos em minutos
consecutivos (66' e 67') e o pedido para ser visto por um especialista
alemão para tratar do físico, que o traía constantemente.
"Descobriu-se
que tinha um desvio na coluna", relembra Carlos
Pereira. Com uma palmilha dentro da bota, lá se pensou que as
mazelas tinham acabado. Ficava por resolver a relação complicada com Paulo
Bento. "Aqueles que quiserem vir para a guerra montem nas
minhas costas", disse Bento quando a corda entre o
clube e Martins estava esticada ao máximo. Fora das
opções do treinador, tapado por outros talentos emergentes, como Moutinho
e Veloso, a saída de Carlos Martins
torna-se inevitável: transfere-se para o Recreativo de Huelva
e dá uma entrevista ao "Record" em que diz cobras e lagartos dos de
Alvalade, mas sobretudo de Bento - acusou-o de
aconselhar Scolari a não o convocar para a selecção e
de o empurrar para fora do Sporting. Bento
reagiu: "Não atingiu estatuto para influenciar ninguém." Já Scolari
escreveria no livro dele que Martins o desiludiu. "As
entrevistas dele... Até disse que a comida de Alvalade se colava às
paredes", diz Carlos Pereira.
RECREATIVO
Em Espanha, Carlos Martins ganha ritmo e jogos nas
pernas numa equipa de segunda linha. O que se seguiu, ninguém o
esperava. Muito menos ele. "Quando o Rui Costa me
telefonou até pensei que fosse um apanhado", disse Martins ao "Record". O
Benfica contratou-o e apresentou-o como sucessor de
Rui Costa - e isto dito pelo próprio Maestro. Depois Carlos
Queiroz chamou-o para o particular com as Ilhas Faroé (um
golo) e para a primeira ronda de qualificação do Mundial,
com Malta: foi titular em ambos mas nunca mais lá
jogou. No Benfica de Quique começou
titular mas perdeu o fulgor com lesões e opções - ainda assim, partilhou
o estatuto de herói da Taça da Liga com Quim,
por ter marcado o penálti decisivo.
Com Jorge Jesus,
o cenário parecia manter-se: suplente de Aimar, o português foi
esperando a sua hora. Que chegou quando o argentino entrou em perda
física. Já leva oito golos (a melhor época de sempre), alguns
importantes, como aquele frente ao FC Porto na Taça da Liga e o bis ao
V. Guimarães para a Liga - jogo em que acabou expulso por acumulação.
"Mas nota-se que amadureceu, fez as suas escolhas e já distingue o que é
bom e mau. Está mais maduro. Tinha tudo para ser dos maiores", diz
Carlos Pereira. Ainda vai a tempo? "Nunca é tarde."
Tem 27 anos.