Azar, erros e passividade no desastre
Portugal arrancou da pior maneira a qualificação para
o Europeu de 2012, empatando a quatro golos com Chipre em casa. Se
não ganhar um jogo em que se fazem quatro golos já
não é normal, ver isso suceder perante uma
selecção tão fraca como a de Chipre atinge as
raias do inacreditável. E fica já aqui um aviso: na
procura de justificações para o resultado não
é aceitável que se traga a terreiro a instabilidade
provocada pelo caso-Queiroz. Portugal não ganhou porque teve
algum azar (as duas bolas no poste), porque tomou opções
tácticas erradas (o duplo-pivô a meio-campo pareceu sempre
um desperdício) e sobretudo porque foi uma equipa defensivamente
incompetente, demasiado passiva face às
movimentações em diagonal dos rápidos alas
cipriotas.
Essa desconcentração defensiva da equipa nacional,
sobretudo dos dois laterais (muito mais Miguel do que Coentrão,
porque lhe couberam sempre os adversários mais difíceis),
deu, aliás, o mote para o que haveria de ser o jogo, com o golo
de Aloneftis logo aos 2'. Se no final Agostinho Oliveira disse que
tinha alertado toda a gente (depreende-se que público e
jornalistas) para a qualidade da ala esquerda cipriota, é
estranho que Miguel não o tenha ouvido, porque se adiantou e
deixou o adversário directo isolar-se para marcar na cara de
Eduardo. Mas nem isso serve de justificação para o jogo
intranquilo que a Selecção fez, pois Portugal foi sempre
recuperando das desvantagens: se sofreu o 0-1 aos 2', empatou aos 7',
num excelente cruzamento de Nani para um cabeceamento de belo efeito de
Hugo Almeida; se sofreu o 1-2 aos 12' num erro inacreditável de
Meireles aliado a algum excesso de confiança de Bruno Alves,
chegou a novo empate aos 29', num remate de longe facilitado por
Giorgalidis.
E no momento em que fez o 3-2, por Danny, logo a abrir a segunda
parte, Portugal poderia ter encontrado a tranquilidade para gerir o
jogo até final. Sobretudo porque a novo empate cipriota (mais
uma vez Miguel a facilitar, ignorando a movimentação de
Okkas) se seguiu o 4-3, num belo remate de Manuel Fernandes. E veio
aí o melhor período luso. O quinto golo teria acabado com
o jogo, mas nem Nani o marcou de livre (à barra), nem Liedson
num belo remate à meia-volta (ao poste), nem Hugo Almeida na
resposta a um cruzamento de Quaresma (calcanhar de deslumbramento, ao
lado, quando se impunha uma conclusão mais simples e eficaz).
Até final, a equipa não resolveu os problemas
tácticos que trouxe desde o início: tanto no 4x2x3x1
inicial (com Manuel Fernandes e Meireles), como depois em 4x4x2 (com
Moutinho e Meireles) faltou sempre a Portugal que um dos médios
se adiantasse, de forma a que aparecesse mais uma unidade na frente,
para aproveitar os erros de uma defesa cipriota que pareceu ainda mais
frágil do que a portuguesa.
A verdade é que, com 4-3 perto do fim, a equipa voltou a
mostrar-se intranquila e displicente. Em vez de gerir a bola,
despachava-a. Em vez de apertar as marcações, dava
espaço aos cipriotas que esperavam o passe. Só por isso
sofreu o empate mesmo em cima do final do jogo, tornando a
qualificação uma corrida em que demorou a sair dos blocos
de partida e em que já precisa de recuperar a desvantagem.
Depois deste empate, a deslocação a Oslo exige uma
vitória. Para acertar contas, mas também para
tranquilizar a equipa.
Portugal, 4 - Chipre, 4
Estádio D. Afonso Henriques
Relvado Razoável
Espectadores 9100
Árbitro Mark Clattenburg
Portugal -- Chipre, 4-4.
Golos
(0-1) Efstathios Aloneftis 2'
(1-1) Hugo Almeida 8'
(1-2) Michael Constantinou 11'
(2-2) Raul Meireles 29'
(3-2) Danny 50'
(3-3) Ioannis Okkas 57'
(4-3) Manuel Fernandes 60'
(4-4) Andreas Avraam 89'
Portugal
Eduardo, Miguel, Bruno Alves, Ricardo Carvalho, Fábio
Coentrão, Manuel Fernandes (João Moutinho, 78), Raul
Meireles, Danny (Liedson, 61), Nani, Ricardo Quaresma e Hugo Almeida
(Yannick Djaló, 84).
Treinador Agostinho Oliveira
Chipre
Antonios Giorgallidis, Marios Ília (Savvas Poursaitidis, 66),
Elias Charalambous, Giorgios Merkis, Andreas Avraam, Marinos Satsias,
Sinisa Dobrasimovic, Efstathios Aloneftis (Ioannis Okkas, 56),
Constantinos Charalambidis (Marios Nikolaou, 75), Konstantinos Makrides
e Michael Constantinou.
Treinador Angelos Anastasiades
Cartão amarelo Elias Charalambous 67'