Terá sido a novidade da braçadeira de capitão,
mas mais do que o invulgar monte de golos marcados ontem pelo FC Porto
e até do papel que a figura em causa teve em episódios
determinantes do jogo, fez impressão a inabitual alegria de
Mariano González numa noite de futebol lúcido e bem
jogado que pôs o campeão nacional nas meias-finais da
Taça e o Sporting no fundo de mais um poço. Má
ideia antecipar o jogo para ontem: sempre era mais digno perder duas
competições em seis dias do que em cinco.
O Sporting activo, jogando em bloco, que se viu em Braga durante
talvez meia hora morreu lá. Dessa pressão nem sinais. Em
segundos, o meio-campo do FC Porto embrulhou o jogo e fugiu com ele.
Rúben Micael e Belluschi emigraram para a metade verde e branca
do campo, à força de boa circulação
sanguínea, mas também de mais espaço do que
tiveram, por exemplo, nos primeiros minutos da jornada de campeonato
com o Nacional. Aparentemente, Carvalhal preocupara-se com isso, porque
aparcou Miguel Veloso na direita, fazendo talvez um de dois
cálculos: ou Veloso seria mais incómodo para Rúben
Micael ou as alegadas fraquezas defensivas de Belluschi seriam melhor
ponto a explorar por Izmailov. Por força dessa troca ou
não, a equipa avariou. Em favor da tese do sim, o golo do russo,
um minuto depois de Carvalhal ter rectificado, posicionando-o da
direita, e a curta fatia de jogo que, depois disso, pertenceu ao
Sporting.
A favor da tese do não, o divertimento que os centrais
Carriço e Tonel, mais Adrien, iam sendo para Falcao e não
só, de bola corrida mas também em quase todas as bolas
paradas. Minuto 1, livre de Belluschi, cabeça fácil de
Varela, e por aí adiante, passando pelo primeiro golo, nem por
acaso marcado com a anca de Rolando, que assinala mais ou menos a
altura a que boa parte dos jogadores do Sporting conseguem saltar. De
bola corrida, o FC Porto não ajudava mesmo nada. Na direita, a
associação Varela/Fucile, coberta por Belluschi,
controlava o território; na esquerda, mandava Micael, quer por
assegurar uma espécie de barragem às tentativas de fuga
do Sporting, quando não tinha a bola, quer por funcionar muito
bem com um exército de um homem só, na pessoa do
capitão Mariano González.
Noutras noites, quase todas, o sofrimento de Mariano sentiu-se nas
bancadas, nos camarotes e nos ecrãs de televisão. A dor
que causa esse esforço medonho de jogar à bola, o
desânimo, a depressão curavam-se, afinal, com um simples
penso em forma de braçadeira. Aliviado desse peso desconhecido
que costuma pousar-lhe nas omoplatas e desequilibrar-lhe os dribles,
entrou a fazer tudo bem, com a inteligência que sempre se vai
suspeitando que possui, e o talento de que ninguém duvida mais
do que ele próprio. Muito antes de ter torcido os elos do
pescoço a Patrício com um golo extraordinário,
já estava só à espera de confirmação
a ideia de que seria figura desta crónica. Não porque
tenha sido o mais influente - o accionista maioritário da equipa
já é Rúben Micael, para aí com 60 por cento
das acções -, mas porque de esperado ponto fraco se
transformara em ponto forte do FC Porto. O que, sem Hulk, sem
reforços para o ataque e lesionado Rodríguez, não
é dizer pouco.
Melhor meio-campo do FC Porto, ataque compacto e homogéneo,
composto por jogadores capazes de atacar e defender, contra um Sporting
deprimido. À revelia da maré, um golão explosivo
de Izmailov anulou a anca de Rolando e puxou um pouco de
competitividade onde já não se pensava que houvesse, mas
insuficiente para cobrir a despesa. Para além de tudo, cresce
às escondidas no campeão nacional um fora-de-série
chamado Falcao, que ainda não tinha marcado, sendo que, em 2010,
as leis da física decretaram que é obrigatório:
oito minutos, dois golos, leão arrumado. Carvalhal pode ter
lubrificado a via quando substituiu Adrien por Matías aos 40' -
a conta estava só nos 2-1, o que talvez desaconselhasse o risco
- mas o treinador do Sporting apenas viu o mesmo que toda a gente: o
resultado e as diferenças não eram proporcionais. E
apesar do volume que o primeiro tomou depois, continuaram a não
ser, mesmo no fim, porque o FC Porto rasou muitos outros golos,
deixou-se entreter uns minutos pelos olés do público e
deu uma borla ao adversário com as poupanças de Jesualdo
Ferreira no final (saíram Belluschi, Micael e Falcao). O
essencial, no entanto, já estava contado e não foi o
segundo golo do Sporting a tirar aquele sorriso tão fora do
sítio da cara de Mariano
mas mais do que o invulgar monte de golos marcados ontem pelo FC Porto
e até do papel que a figura em causa teve em episódios
determinantes do jogo, fez impressão a inabitual alegria de
Mariano González numa noite de futebol lúcido e bem
jogado que pôs o campeão nacional nas meias-finais da
Taça e o Sporting no fundo de mais um poço. Má
ideia antecipar o jogo para ontem: sempre era mais digno perder duas
competições em seis dias do que em cinco.
O Sporting activo, jogando em bloco, que se viu em Braga durante
talvez meia hora morreu lá. Dessa pressão nem sinais. Em
segundos, o meio-campo do FC Porto embrulhou o jogo e fugiu com ele.
Rúben Micael e Belluschi emigraram para a metade verde e branca
do campo, à força de boa circulação
sanguínea, mas também de mais espaço do que
tiveram, por exemplo, nos primeiros minutos da jornada de campeonato
com o Nacional. Aparentemente, Carvalhal preocupara-se com isso, porque
aparcou Miguel Veloso na direita, fazendo talvez um de dois
cálculos: ou Veloso seria mais incómodo para Rúben
Micael ou as alegadas fraquezas defensivas de Belluschi seriam melhor
ponto a explorar por Izmailov. Por força dessa troca ou
não, a equipa avariou. Em favor da tese do sim, o golo do russo,
um minuto depois de Carvalhal ter rectificado, posicionando-o da
direita, e a curta fatia de jogo que, depois disso, pertenceu ao
Sporting.
A favor da tese do não, o divertimento que os centrais
Carriço e Tonel, mais Adrien, iam sendo para Falcao e não
só, de bola corrida mas também em quase todas as bolas
paradas. Minuto 1, livre de Belluschi, cabeça fácil de
Varela, e por aí adiante, passando pelo primeiro golo, nem por
acaso marcado com a anca de Rolando, que assinala mais ou menos a
altura a que boa parte dos jogadores do Sporting conseguem saltar. De
bola corrida, o FC Porto não ajudava mesmo nada. Na direita, a
associação Varela/Fucile, coberta por Belluschi,
controlava o território; na esquerda, mandava Micael, quer por
assegurar uma espécie de barragem às tentativas de fuga
do Sporting, quando não tinha a bola, quer por funcionar muito
bem com um exército de um homem só, na pessoa do
capitão Mariano González.
Noutras noites, quase todas, o sofrimento de Mariano sentiu-se nas
bancadas, nos camarotes e nos ecrãs de televisão. A dor
que causa esse esforço medonho de jogar à bola, o
desânimo, a depressão curavam-se, afinal, com um simples
penso em forma de braçadeira. Aliviado desse peso desconhecido
que costuma pousar-lhe nas omoplatas e desequilibrar-lhe os dribles,
entrou a fazer tudo bem, com a inteligência que sempre se vai
suspeitando que possui, e o talento de que ninguém duvida mais
do que ele próprio. Muito antes de ter torcido os elos do
pescoço a Patrício com um golo extraordinário,
já estava só à espera de confirmação
a ideia de que seria figura desta crónica. Não porque
tenha sido o mais influente - o accionista maioritário da equipa
já é Rúben Micael, para aí com 60 por cento
das acções -, mas porque de esperado ponto fraco se
transformara em ponto forte do FC Porto. O que, sem Hulk, sem
reforços para o ataque e lesionado Rodríguez, não
é dizer pouco.
Melhor meio-campo do FC Porto, ataque compacto e homogéneo,
composto por jogadores capazes de atacar e defender, contra um Sporting
deprimido. À revelia da maré, um golão explosivo
de Izmailov anulou a anca de Rolando e puxou um pouco de
competitividade onde já não se pensava que houvesse, mas
insuficiente para cobrir a despesa. Para além de tudo, cresce
às escondidas no campeão nacional um fora-de-série
chamado Falcao, que ainda não tinha marcado, sendo que, em 2010,
as leis da física decretaram que é obrigatório:
oito minutos, dois golos, leão arrumado. Carvalhal pode ter
lubrificado a via quando substituiu Adrien por Matías aos 40' -
a conta estava só nos 2-1, o que talvez desaconselhasse o risco
- mas o treinador do Sporting apenas viu o mesmo que toda a gente: o
resultado e as diferenças não eram proporcionais. E
apesar do volume que o primeiro tomou depois, continuaram a não
ser, mesmo no fim, porque o FC Porto rasou muitos outros golos,
deixou-se entreter uns minutos pelos olés do público e
deu uma borla ao adversário com as poupanças de Jesualdo
Ferreira no final (saíram Belluschi, Micael e Falcao). O
essencial, no entanto, já estava contado e não foi o
segundo golo do Sporting a tirar aquele sorriso tão fora do
sítio da cara de Mariano