Jovem de 13 anos esteve mais de três horas perdido na serra da Estrela - "era tudo branco", conta |
"Tenho muitos pesadelos", explicou José Carlos Castro, o rapaz de 13
anos que, no passado sábado, esteve mais de três horas perdido entre a
neve e o nevoeiro da serra da Estrela. Residente na
freguesia de Briteiros, em Guimarães, o jovem participou com a mãe e o
Agrupamento de Escuteiros da localidade onde vive num fim-de-semana de
actividades. No sábado, estiveram na Torre a brincar na neve e no
domingo na Covilhã. Foi na Torre, quando José Carlos deslizava na neve,
que se perdeu dos amigos. "Foi uma questão de segundos. Estávamos a
brincar e ele desapareceu", disse Maria Isabel Castro, chefe escutista e
mãe do rapaz. A tarde de sol rapidamente deu lugar a um intenso
nevoeiro e José Carlos, que desceu a encosta pelo lado norte, acabaria
por ser encontrado na encosta sul. "Não via nada. Era tudo branco",
recordou. O auxílio dos 35 homens, bombeiros e militares, que procuraram
o jovem só foi possível porque o escuteiro 'explorador' tinha um
telemóvel que lhe permitiu conversar com a equipa de resgate e manter a
calma. Mesmo assim, quando foi encontrado estava com hipotermia e teve
que receber tratamento médico no hospital da Covilhã. O frio e o medo
(entretanto escureceu) foram tantos que José Carlos estava 'no limite'
quando foi resgatado. Valeram-lhe alguns ensinamentos recebidos nos
escuteiros para conseguir aguentar três horas de frio intenso e solidão.Aluno
do 7.º ano na Escola de Briteiros, ontem foi um dia especial. "Toda a
gente me perguntava o que aconteceu, como é que eu me perdi, o que é que
eu sentia", referiu. "Foi uma coisa tão rápida que nem dá para
explicar" recordou a mãe. Isabel Castro não dorme desde sábado e não
sabe quando voltará a 'normalidade'. "Estava muito nevoeiro, muita neve e
ele perdeu a orientação", disse. O pai e o irmão, de três anos, que não
participaram na excursão, só souberam o que se passou perto das 23
horas, quando o jovem teve alta hospitalar.Três dias depois do
incidente, Isabel e José Carlos nem querem ouvir falar em neve - "o que
sofremos lá nunca mais se esquece", finaliza Isabel Castro.