O
primeiro dos três dias de greve dos enfermeiros deixou o casal José
Copa, 80 anos, e Maria Conceição, 75 anos, desanimado. O doente não
conseguiu a consulta de urologia no Hospital de Santa Maria ansiada há
muito tempo.
"Não fomos passar o Natal com os
filhos, nos Estados Unidos, para não perder o exame e agora foi adiado
por causa da greve. Viemos de Peniche na carreira das 06h00 e só nos
resta voltar para casa", desabafou José Copa ao CM.
Milhares
de pessoas foram afectadas com a paralisação de Norte a Sul, que
obrigou ao adiamento de operações, consultas e tratamentos. Alguns
serviços paralisaram por completo e até o Governo reconhece que a
adesão foi elevada (77%). Os sindicatos dizem que fizeram greve 89% dos
enfermeiros.
A paralisação total ocorreu nos
hospitais de Cantanhede, Montijo, no Joaquim Urbano (Porto) e em
Anadia. No Hospital do Barlavento Algarvio a adesão foi de 95,6% e nos
serviço de saúde do Porto foi superior a 80%. Em Setúbal não
trabalharam 87% dos enfermeiros escalados e no Barreiro 94%.
A dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, Guadalupe Simões, crê que a greve pode fazer a tutela recuar.
Os
enfermeiros contestam a proposta do Ministério da Saúde relativa à
revisão da carreira que tem repercussões salariais. No início da
profissão passam a ganhar menos 25 euros/mês. Apesar da greve, as
negociações continuam.
LONGA ESPERA PARA FAZER CURATIVO
Gabriela
Teixeira, 42 anos, foi operada para a remoção do útero há poucos dias.
Uma infecção leva-a a deslocar-se frequentemente ao Centro de Saúde do
Covelo, Porto, para fazer o curativo. "Não me avisaram de que havia
greve. Preciso de mudar o penso e se não for aqui tenho de ir à
maternidade. Mas mesmo lá não sei se há enfermeiros", disse. A adesão à
greve, segundo os sindicatos, foi de 90% no Grande Porto.
DEPOIMENTOS
"É
desmotivante ter entrado com determinadas expectativas para uma
carreira e as mesmas não serem cumpridas. Não recebemos um salário
justo pelo que fazemos.": Arlindo Martins, Porto
"Compreendo
que façam greve, mas é uma grande chatice porque tenho de mudar o penso
de uma operação que fiz ao pescoço dia sim, dia não. Pensei que fosse
atendida.": Maria Rosa, Caldas da Rainha
"É um
transtorno grande virmos ao hospital e não termos consulta, mas
compreendo os motivos pelos quais os enfermeiros não trabalham. Estão a
reivindicar direitos legítimos.": Isabel Santos, Lisboa
"Só
fui informada que não tinha consulta de otorrino quando cheguei a
Évora. Levantei-me cedo, cheia de dores, fiz 100 quilómetros e tive até
às 15h00 sem comer, para nada.": Inácia Adriano, R. Monsaraz