“Lutaste tanto. Não merecias isto, filho
Sentada
junto à lareira da sua casa na Póvoa de Lanhoso, Esperança chora sem
parar. Bastante abalada, olha a fotografia do filho, Sérgio Antunes, 26
anos, e mal consegue acreditar que o perdeu para sempre.
O
jovem, estudante na Escola Superior de Polícia, em Lisboa, morreu
anteontem pelas 21h00 num acidente na A28, Póvoa de Varzim. A tragédia
vitimou ainda o subcomissário da PSP de Loures Gil Canário, 25 anos, e
feriu outros dois aspirantes à polícia: Ricardo Amaral, de 24 anos, e
Ana Carolina, de 25. Esta última era namorada do subcomissário que
chefiava a divisão de trânsito em Loures. "Não sabemos o que aconteceu
ao certo. Às 23h00 um colega dele ligou a contar o que tinha
acontecido. O meu filho estava quase a acabar o curso de polícia,
aquele era o sonho dele desde pequeno. Andava tão feliz ", recordou
Esperança, mãe de Sérgio.
Ao final da tarde de
anteontem, Ricardo, residente em Braga, foi buscar Sérgio a casa da
namorada, em Barcelos, e depois passou em Esposende para apanhar o
casal de namorados, que passava o fim-de--semana com os pais de Ana
Carolina. Mas, já a chegar à Póvoa de Varzim, um cão atravessou a
auto--estrada e Ricardo Amaral, com o instinto de se desviar, terá
perdido o controlo do carro e despistou-se.
Enquanto
Sérgio Antunes e Gil Canário tiveram morte imediata, Ricardo sofreu
ferimentos graves e está internado no Hospital de São Marcos, em Braga.
Quanto a Ana Carolina, saiu praticamente ilesa do acidente. Foi, de
resto, a própria jovem que ligou para o INEM a pedir socorro. Horas
depois, Ana foi ter com os pais, a quem contou o que tinha acontecido.
Estava em choque. A imagem do namorado a morrer não lhe saía da cabeça.
Em
casa de Sérgio Antunes, que completava o curso de polícia em Junho, a
família estava ontem devastada. Os pais do jovem de 26 anos não se
conseguiam conformar com a morte do filho. "Lutaste tanto e para quê?
Não merecias isto, meu filho. Eras tão boa pessoa, nem chegaste a ver o
teu sonho realizado", gritava a mãe de Sérgio.
Os funerais das vítimas realizam-se hoje à tarde.
GIL SEGUIU PISADAS DO PAI
Os
vizinhos da rua do Mestre Escola, no centro de Elvas, onde cresceu o
subcomissário Gil Canário, não escondiam a profunda consternação ao
saber da morte do filho da terra. "Era muito bom menino, seguiu as
pisadas do pai, que também era polícia. Lembro-me bem dele aqui pela
rua. É muito triste morrer assim, de acidente", disse ao CM uma vizinha
da família Canário. Actualmente, o oficial de 25 anos prestava serviço
em Loures, depois de durante a sua formação ter feito um estágio em
Elvas. "Passou por aqui em formação. Mostrava ter um futuro próspero na
PSP", disse ao CM um antigo colega da esquadra alentejana. Os
familiares e amigos do jovem polícia, contactados pelo CM,
remeteram--se ao silêncio. O funeral parte hoje da igreja de São
Domingos para o cemitério de Elvas.