Acusados 27 indivíduos, nove dos quais por tráfico |
Escutas telefónicas da GNR a suspeitos de tráfico de armas, ao longo de
quase um ano, desvendaram uma teia de cumplicidades em negócios
ilícitos que se estenderam a vários concelhos do Norte. Acusação do
Ministério Público implica 27 indivíduos. Muito
antes de avançar com as operações em que foram apreendidas 280 armas, o
Núcleo de Investigação Criminal (NIC) da GNR de Santo Tirso interceptou
sucessivas chamadas telefónicas comprometedoras entre suspeitos. As
conversas passavam por aquele que é apontado como o principal
protagonista do esquema, um reformado, de 62 anos, residente em
Sobrado, Valongo.O indivíduo começou a ser investigado após uma
denúncia anónima que o acusava de dedicar-se à transformação de
pistolas de alarme, de forma a poderem receber munições reais. O
telemóvel foi colocado sob escuta e, a partir de finais de 2007, o
homem foi "apanhado" em vários contactos destinados a encomendas de
armas e, por vezes, de componentes das mesmas, além de munições
ilegais. Consoante os modelos e as condições, os preços
acordados para as transacções oscilavam, por norma, entre os 125 e os
500 euros. Foram ainda escutados acordos para adulteração e conserto de
armas e para intermediação de negócios com indivíduos desconhecidos. Venderam pistola de políciaA
"bola de neve" foi crescendo e foram identificados mais cúmplices,
entre os quais o funcionário de um armeiro instalado na cidade do
Porto. Como explica a acusação, deduzida pelo Ministério Público de
Valongo, era necessária a colaboração de alguém que estivesse ligado ao
"negócio legal" das armas e que pudesse servir de fornecedor, sobretudo
de pistolas de alarme e de munições. O funcionário do armeiro é
acusado, também, de ter vendido a um outro arguido uma pistola (calibre
7,65 mm) que tinha sido furtada a um elemento da PSP. Custou 1400 euros.A
investigação do NIC de Santo Tirso originou, em Julho de 2008, uma
megaoperação que teve depois mais duas fases, num total de 115 buscas.
A maioria dos acusados reside nos concelhos de Valongo (11) e de
Paredes (seis) e há também arguidos oriundos de Famalicão, Lousada,
Marco de Canaveses, Armamar, Porto, Gaia e Gondomar. A nove dos
suspeitos é imputado o crime de tráfico de armas e os restantes, na sua
maior parte clientes, responderão por detenção de armas proibidas.
Entre esses alegados compradores contam-se um agente da Polícia
Municipal de Famalicão e um médico psiquiatra de Gaia. O primeiro
destacou-se por guardar em casa, entre outras armas, uma
espingarda-metralhadora Kalashnikov. O processo está em fase de
instrução, uma vez que alguns arguidos contestaram a acusação, tentando
evitar a ida a julgamento. Todos estão em liberdade. O reformado de
Sobrado chegou a estar em prisão domiciliária, mas a medida de coacção
foi extinta.