O gosto pelo
raciocínio lógico-matemático foi mais uma vez testado nos alunos do
Básico e do Secundário na sexta edição do Campeonato Nacional de Jogos
Matemáticos. A novidade deste ano foi a participação de dezenas de
alunos com problemas de visão.
Aos 10 anos, o Ricardo
diverte-se horas a fio de volta do tabuleiro de Konane. Apesar das
dificuldades em ver, joga com grande prazer e facilidade o jogo
tradicional do Havai, composto de 31 peças brancas e 31 pretas que devem
ser capturadas pelos respectivos adversários.Ricardo Ferreira
frequenta o quarto ano no Centro Helen Keller. Vê, com dificuldade,
apenas de um olho. Usa um par de óculos que lhe permite fazer a vida
normal. Este ano lectivo começou a aprender braile.Ontem ficou
entre os doze melhores jogadores de Konane no Campeonato Nacional de
Jogos Matemáticos que decorreu em Santarém.A sua participação nos
Jogos Matemáticos deste ano só foi possível porque a organização do
campeonato decidiu incluir os invisuais e de baixa visão. Foram
classificados 44 alunos de escolas de todo o país que competiram em
igualdade de circunstâncias com os restantes."Sempre que chegava a
casa jogava um bocado e dizia-me: 'olha pai correu-me bem hoje'".
Quando soube que ia a Santarém, vibrou, conta ao JN o pai, Sérgio
Ferreira.Não é matemática"Não é matemática. São jogos. Mas
o processo mental é muito semelhante. Há quem diga que na nossa cabeça o
processo é o mesmo", afirma o professor Jorge Nuno Silva, fundador e
organizador do campeonato.A relação com a matemática existe
porque "todos os jogos exigem raciocínio lógico puro, sem factor sorte" e
os alunos podem, assim, "desenvolver as capacidades de abstracção,
estratégia, superação por tentativa e erro e reflexão". "É óptimo
exercício para gostar de pensar. A matemática é o prazer de pensar".O
matemático Jorge Nuno Silva, professor da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa, começou a organizar este evento em 2004 (ler
caixa em baixo) e nunca mais parou."Começámos com 400 alunos na
final em 2004. Hoje temos mais de 2000. Mas a maior novidade foi a
participação dos alunos com problemas de visão ou cegos", acrescenta,
classificando o campeonato como o "maior evento do sistema educativo
português".Carlota Dias, professora de matemática do terceiro
ciclo, aceitou o desafio de Jorge Nuno Silva para integrar alunos com
baixa visão e cegueira. Há três anos começou o trabalho de preparação.
"Verificámos uma coisa fantástica: tivemos o cuidado de não obrigar os
alunos sem problemas de visão a jogar com um tabuleiro adaptado. E não
houve um único aluno que tenha dito que não aceitava".Os jogos
vão variando em cada edição. Para cada ano são seleccionados seis jogos e
procede-se também à selecção dos candidatos à final. O processo decorre
ao longo do ano lectivo em todas as escolas participantes, públicas ou
particulares.Depois de vários anos de implementação, fazem-se
balanços. "Um dos estudos que estamos a fazer é para ver qual o tipo de
correlação, se é que existe alguma, entre a prática destes jogos e o
desempenho escolar, em particular a capacidade matemática", afirma Jorge
Nuno Silva. A investigação está a ser levada a cabo por colaboradores
da Associação Ludus.
raciocínio lógico-matemático foi mais uma vez testado nos alunos do
Básico e do Secundário na sexta edição do Campeonato Nacional de Jogos
Matemáticos. A novidade deste ano foi a participação de dezenas de
alunos com problemas de visão.
foto Henriques da Cunha/Global Imagens |
Aos 10 anos, o Ricardo
diverte-se horas a fio de volta do tabuleiro de Konane. Apesar das
dificuldades em ver, joga com grande prazer e facilidade o jogo
tradicional do Havai, composto de 31 peças brancas e 31 pretas que devem
ser capturadas pelos respectivos adversários.Ricardo Ferreira
frequenta o quarto ano no Centro Helen Keller. Vê, com dificuldade,
apenas de um olho. Usa um par de óculos que lhe permite fazer a vida
normal. Este ano lectivo começou a aprender braile.Ontem ficou
entre os doze melhores jogadores de Konane no Campeonato Nacional de
Jogos Matemáticos que decorreu em Santarém.A sua participação nos
Jogos Matemáticos deste ano só foi possível porque a organização do
campeonato decidiu incluir os invisuais e de baixa visão. Foram
classificados 44 alunos de escolas de todo o país que competiram em
igualdade de circunstâncias com os restantes."Sempre que chegava a
casa jogava um bocado e dizia-me: 'olha pai correu-me bem hoje'".
Quando soube que ia a Santarém, vibrou, conta ao JN o pai, Sérgio
Ferreira.Não é matemática"Não é matemática. São jogos. Mas
o processo mental é muito semelhante. Há quem diga que na nossa cabeça o
processo é o mesmo", afirma o professor Jorge Nuno Silva, fundador e
organizador do campeonato.A relação com a matemática existe
porque "todos os jogos exigem raciocínio lógico puro, sem factor sorte" e
os alunos podem, assim, "desenvolver as capacidades de abstracção,
estratégia, superação por tentativa e erro e reflexão". "É óptimo
exercício para gostar de pensar. A matemática é o prazer de pensar".O
matemático Jorge Nuno Silva, professor da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa, começou a organizar este evento em 2004 (ler
caixa em baixo) e nunca mais parou."Começámos com 400 alunos na
final em 2004. Hoje temos mais de 2000. Mas a maior novidade foi a
participação dos alunos com problemas de visão ou cegos", acrescenta,
classificando o campeonato como o "maior evento do sistema educativo
português".Carlota Dias, professora de matemática do terceiro
ciclo, aceitou o desafio de Jorge Nuno Silva para integrar alunos com
baixa visão e cegueira. Há três anos começou o trabalho de preparação.
"Verificámos uma coisa fantástica: tivemos o cuidado de não obrigar os
alunos sem problemas de visão a jogar com um tabuleiro adaptado. E não
houve um único aluno que tenha dito que não aceitava".Os jogos
vão variando em cada edição. Para cada ano são seleccionados seis jogos e
procede-se também à selecção dos candidatos à final. O processo decorre
ao longo do ano lectivo em todas as escolas participantes, públicas ou
particulares.Depois de vários anos de implementação, fazem-se
balanços. "Um dos estudos que estamos a fazer é para ver qual o tipo de
correlação, se é que existe alguma, entre a prática destes jogos e o
desempenho escolar, em particular a capacidade matemática", afirma Jorge
Nuno Silva. A investigação está a ser levada a cabo por colaboradores
da Associação Ludus.