"Eu sou de Milão, Italiano de Gema", disse numa brincadeira depois de
imitar Quim Barreiros. Mourinho elogiou-o antes do polémico Inter-Barça
da Champions
"Eu sou de Milão, italiano de gema!". Talvez porque é fã de Pierluigi
Collina - o careca mais famoso do calcio que até nasceu em Bolonha -
Olegário Benquerença disse um dia a Fernando Pereira, no programa
"Cuidado com as Imitações", que nasceu em Itália. Ontem foi nomeado para
o FC Porto-Benfica de domingo, está portanto escolhido o primeiro
árbitro "estrangeiro" para um jogo em Portugal, como aliás defendem
muitos daqueles que não se fiam nos apitos nacionais, como se faz em
campeonatos menores na Arábia Saudita ou no Irão, como uma vez sugeriu o
Sporting para um dérbi com o Benfica - em 1973/74 os leões pediram um
espanhol para o decisivo jogo de campeonato contra as águias; a Comissão
Central de Arbitragem não aceitou, nomeou Raúl Nazaré (Setúbal) e o
Benfica ganhou 5-3 sem casos relevantes.
É claro que a conversa
de Olegário Benquerença não era séria - tinha acabado de imitar Quim
Barreiros, de acordeão ao peito, a cantarolar... "abre as pedras meu
amor; é aí que o peixe se esconde quando vê o pescador" - porque o homem
nasceu na Batalha, ali ao lado de Leiria, há 40 anos. Mas mal sabia o
árbitro que a brincadeira da nacionalidade ia ganhar dimensão
internacional depois do trabalho realizado no Inter de Milão-Barcelona,
primeira mão das meias-finais da Liga dos Campeões, 3-1 para a equipa de
José Mourinho. Um golo ilegal e um penálti por assinalar abanaram a
Catalunha inteira. Os jornais foram investigar o seu passado e de
simples leiriense Olegário passou a milanês amigo de Mourinho, com o
qual até teria mantido negócios em tempos.
Italiano ou não, a
verdade é que Olegário Benquerença é hoje a cara da arbitragem
portuguesa no estrangeiro, o único que entendem ter pedalada para a alta
roda. Ou seja, também por aí é um pouco "estrangeiro", porque a UEFA
nomeou-o para sete jogos da Liga dos Campeões esta temporada e a FIFA
confirmou-o para o quadro de árbitros que vai ao campeonato do Mundo na
África do Sul. "Eu sou melhor treinador do que era, ele é melhor árbitro
do que era", disse José Mourinho antes do tal Inter-Barça, elogiando a
qualidade do senhor de preto. "São jogos que se dão aos melhores". Esta
época, Olegário este ainda esteve em partidas que envolveram o
Estugarda, a Juventus, o Manchester United, a Fiorentina o AC Milan, o
Bordéus e o Olympiacos.
Em grande lá fora, mais pequeno cá
dentro. Em 2009/10, Olegário Benquerença ainda só apitou um encontro
entre grandes, o Sporting-Benfica da Taça da Liga onde expulsou João
Pereira aos seis minutos. No campeonato não foi chamado para um clássico
mas esteve no FC Porto-Sporting de Braga em que os dragões golearam
5-1. Vítor Pereira, presidente da Comissão de Arbitragem da Liga (e a
outra referência de Olegário, para além de Colina) protegeu-o a partir
do momento em que se envolveu na preparação do mundial. Agora dá-lhe a
responsabilidade do jogo mais tenso da época, aquele no qual pode
decidir-se o campeonato.
AHAHAHA Como nunca houve uma nomeação
consensual em Portugal, o nome de Olegário Benquerença não cai bem em
lado nenhum. Mas no Estádio da Luz a azia é maior porque foi ele que não
viu aquela bola (ou aquele golo) dentro da baliza de Vítor Baía, depois
do remate de Petit no célebre clássico de 2005/05 que o FC Porto acabou
por ganhar 1-0. Quem achar que os nortenhos retiram alguma vantagem
desta nomeação - até porque em 22 jogos de campeonato os azuis só
perderam dois com este árbitro em campo - acredite nas palavras de
especialista. "Quando estão 50 mil pessoas dentro de um estádio as
sensações são indescritíveis, mas ao fim de dois ou três minutos
bloqueamos os sentidos no jogo e vai-se tudo, esquecemos o ambiente e
nem sabemos quais são as equipas que estão a jogar", explicou numa
tertúlia promovida pelo Região de Leiria.
Por influência do pai,
que tinha seguido o mesmo caminho, Olegário Benquerença viu-se cedo com
um apito na boca. Quando tinha sete anos, diz, arbitrou pela primeira
vez um encontro de adultos. "A bola fazia parte de mim e do meu
dia-a-dia. Foi por causa da bola que levei a primeira palmada", assumiu.
Afinal, Olegário também era rapaz de se perder a jogar na rua e só aos
18 anos escolheu deixar os pontapés para apostar nas apitadelas. Aos 25
já tinha chegado à primeira categoria.
O jogo que não esquece
foi o Vitória de Guimarães-Benfica em que Fehér caiu e faleceu no
relvado do Afonso Henriques pouco depois de ter visto um cartão amarelo.
"Marcou para sempre a minha vida", contou. Miklós Feher morreu a 25 de
Janeiro de 2004, Olegário Benquerença não se deixou afectar e daí para
cá definiu o seu percurso internacional, tendo agora o Milan-Manchester
United e o Bayer-Fiorentina como pontosaltos na carreira. Em Julho,
quando se estrear no Mundial, terá uma história melhor contar. "Só quero
chegar vivo à data do embarque para a África do Sul..." com Cláudia
Garcia
imitar Quim Barreiros. Mourinho elogiou-o antes do polémico Inter-Barça
da Champions
"Eu sou de Milão, italiano de gema!". Talvez porque é fã de Pierluigi
Collina - o careca mais famoso do calcio que até nasceu em Bolonha -
Olegário Benquerença disse um dia a Fernando Pereira, no programa
"Cuidado com as Imitações", que nasceu em Itália. Ontem foi nomeado para
o FC Porto-Benfica de domingo, está portanto escolhido o primeiro
árbitro "estrangeiro" para um jogo em Portugal, como aliás defendem
muitos daqueles que não se fiam nos apitos nacionais, como se faz em
campeonatos menores na Arábia Saudita ou no Irão, como uma vez sugeriu o
Sporting para um dérbi com o Benfica - em 1973/74 os leões pediram um
espanhol para o decisivo jogo de campeonato contra as águias; a Comissão
Central de Arbitragem não aceitou, nomeou Raúl Nazaré (Setúbal) e o
Benfica ganhou 5-3 sem casos relevantes.
É claro que a conversa
de Olegário Benquerença não era séria - tinha acabado de imitar Quim
Barreiros, de acordeão ao peito, a cantarolar... "abre as pedras meu
amor; é aí que o peixe se esconde quando vê o pescador" - porque o homem
nasceu na Batalha, ali ao lado de Leiria, há 40 anos. Mas mal sabia o
árbitro que a brincadeira da nacionalidade ia ganhar dimensão
internacional depois do trabalho realizado no Inter de Milão-Barcelona,
primeira mão das meias-finais da Liga dos Campeões, 3-1 para a equipa de
José Mourinho. Um golo ilegal e um penálti por assinalar abanaram a
Catalunha inteira. Os jornais foram investigar o seu passado e de
simples leiriense Olegário passou a milanês amigo de Mourinho, com o
qual até teria mantido negócios em tempos.
Italiano ou não, a
verdade é que Olegário Benquerença é hoje a cara da arbitragem
portuguesa no estrangeiro, o único que entendem ter pedalada para a alta
roda. Ou seja, também por aí é um pouco "estrangeiro", porque a UEFA
nomeou-o para sete jogos da Liga dos Campeões esta temporada e a FIFA
confirmou-o para o quadro de árbitros que vai ao campeonato do Mundo na
África do Sul. "Eu sou melhor treinador do que era, ele é melhor árbitro
do que era", disse José Mourinho antes do tal Inter-Barça, elogiando a
qualidade do senhor de preto. "São jogos que se dão aos melhores". Esta
época, Olegário este ainda esteve em partidas que envolveram o
Estugarda, a Juventus, o Manchester United, a Fiorentina o AC Milan, o
Bordéus e o Olympiacos.
Em grande lá fora, mais pequeno cá
dentro. Em 2009/10, Olegário Benquerença ainda só apitou um encontro
entre grandes, o Sporting-Benfica da Taça da Liga onde expulsou João
Pereira aos seis minutos. No campeonato não foi chamado para um clássico
mas esteve no FC Porto-Sporting de Braga em que os dragões golearam
5-1. Vítor Pereira, presidente da Comissão de Arbitragem da Liga (e a
outra referência de Olegário, para além de Colina) protegeu-o a partir
do momento em que se envolveu na preparação do mundial. Agora dá-lhe a
responsabilidade do jogo mais tenso da época, aquele no qual pode
decidir-se o campeonato.
AHAHAHA Como nunca houve uma nomeação
consensual em Portugal, o nome de Olegário Benquerença não cai bem em
lado nenhum. Mas no Estádio da Luz a azia é maior porque foi ele que não
viu aquela bola (ou aquele golo) dentro da baliza de Vítor Baía, depois
do remate de Petit no célebre clássico de 2005/05 que o FC Porto acabou
por ganhar 1-0. Quem achar que os nortenhos retiram alguma vantagem
desta nomeação - até porque em 22 jogos de campeonato os azuis só
perderam dois com este árbitro em campo - acredite nas palavras de
especialista. "Quando estão 50 mil pessoas dentro de um estádio as
sensações são indescritíveis, mas ao fim de dois ou três minutos
bloqueamos os sentidos no jogo e vai-se tudo, esquecemos o ambiente e
nem sabemos quais são as equipas que estão a jogar", explicou numa
tertúlia promovida pelo Região de Leiria.
Por influência do pai,
que tinha seguido o mesmo caminho, Olegário Benquerença viu-se cedo com
um apito na boca. Quando tinha sete anos, diz, arbitrou pela primeira
vez um encontro de adultos. "A bola fazia parte de mim e do meu
dia-a-dia. Foi por causa da bola que levei a primeira palmada", assumiu.
Afinal, Olegário também era rapaz de se perder a jogar na rua e só aos
18 anos escolheu deixar os pontapés para apostar nas apitadelas. Aos 25
já tinha chegado à primeira categoria.
O jogo que não esquece
foi o Vitória de Guimarães-Benfica em que Fehér caiu e faleceu no
relvado do Afonso Henriques pouco depois de ter visto um cartão amarelo.
"Marcou para sempre a minha vida", contou. Miklós Feher morreu a 25 de
Janeiro de 2004, Olegário Benquerença não se deixou afectar e daí para
cá definiu o seu percurso internacional, tendo agora o Milan-Manchester
United e o Bayer-Fiorentina como pontosaltos na carreira. Em Julho,
quando se estrear no Mundial, terá uma história melhor contar. "Só quero
chegar vivo à data do embarque para a África do Sul..." com Cláudia
Garcia