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Eusébio. "Em 15 anos que joguei no Benfica, o FC Porto nunca ganhou" 076




Eusébio. "Em 15 anos que joguei no Benfica, o FC Porto nunca ganhou" 087




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    Eusébio. "Em 15 anos que joguei no Benfica, o FC Porto nunca ganhou"

    henrike
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    Diz de tua justiça..... :

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    País de Origem : Eusébio. "Em 15 anos que joguei no Benfica, o FC Porto nunca ganhou" Por10
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    Data de inscrição : 17/01/2010

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    Mensagem por henrike Seg Dez 27 2010, 17:08

    Em 1960, um menino aterrou em Lisboa
    para mudar o futebol português. 50 anos depois, continua o mesmo:
    humilde,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,
    Eusébio. "Em 15 anos que joguei no Benfica, o FC Porto nunca ganhou" 0000241480
    Em 1960, um menino aterrou em Lisboa
    para mudar o futebol português. 50 anos depois, continua o mesmo:
    humilde
    Eusébio é um prato. E não dizemos isto só porque o entrevistámos na Tia
    Matilde, durante a hora (adiantada) de almoço. É a pura convicção do i.
    Eusébio é um prato, expressão que indicia divertimento e afabilidade.
    Vamos por partes: o i quer entrevistá-lo a propósito da sua chegada a
    Portugal, fez 50 anos no dia 15, e telefona-lhe. Assim, sem passar por
    ninguém. Do outro lado atende Eusébio, como um comum mortal. E toda a
    gente sabe que Eusébio não é um qualquer. É O Eusébio, com "o"
    maiúsculo. O Eusébio que ainda hoje suscita admiração e é reconhecido em
    qualquer parte do mundo, seja na Bósnia, na Venezuela ou no Vietname.

    O Eusébio que foi eleito pela FIFA como o nono melhor jogador de todos
    os tempos no século XX. À sua frente, Pelé (que pede uma batelada de
    dólares por cada entrevista), Cruijff (é difícil falar com alguém que
    divide os seus dias entre o golfe e o... golfe), Beckenbauer (Munique é
    já ali, mas o Kaiser "só com marcação, se faz favor"), Di Stéfano (o
    presidente honorário do Real Madrid tem mais do que fazer do que dar
    entrevistas, a não ser que seja um evento-homenagem), Maradona (alguém
    tem aí o telefone do Fidel?), Puskas (só está entre nós no pensamento),
    Platini (é o presidente da UEFA e "três occupé") e Garrincha (é de outro
    mundo, e se não fosse fintava os jornalistas cá com uma pinta...). O
    que nos deixa no nono classificado do top da FIFA: Eusébio. Que atende o
    telefone na boa, como se fosse o Manel ou o Jaquim.

    Aqui está o ponto de partida para a expressão "Eusébio é um prato": o
    assessor de Eusébio é o próprio Eusébio da Silva Ferreira. Atende o
    telefone, ouve e diz de sua justiça. O i quer entrevistá-lo na
    segunda-feira à noite, dia 13. Resposta dele: "Não, não pode ser. Daqui a
    15 minutos, começa o Manchester United-Arsenal. Tenho de ver esse jogo.
    Liga-me amanhã." Muito bem, que seja na terça-feira, 14. "Hoje? Não,
    não dá. Então agora vou almoçar e depois tenho de ver [por momentos,
    ainda temi o pior e que fosse o Motherwell-Hearts, da Escócia] a
    meia-final do Mundial de clubes [Mazembe-Internacional]. A ver se amanhã
    nos entendemos, ok?" Okay, Eusébio. "Quando? Hoje? Ehhh, desculpa lá,
    mas não vai dar. Tenho de ver Rapid Viena-FC Porto [Liga Europa]." Mas
    desta vez lançamos um contra-ataque, que julgávamos ser venenoso. Qual
    quê! "Amanhã, quinta-feira? [a falar baixinho mas a pensar alto] às 18h,
    é o Levski-Sporting [com voz normal] O Sporting joga e tenho de ver.
    Isto está engatado. Amanhã ou depois, passa pela Tia Matilde à hora de
    almoço e estou lá, de certeza." Dito. E feito. É sábado, dia do
    Benfica-Rio Ave, e Eusébio lá está, como prometido, no balcão da Tia
    Matilde. Quando nos vê, não se deixa surpreender (pudera!) e diz com um
    sorriso: "Estava difícil, hein! Mas como vês, deu tudo certo."

    O i senta-se ao lado dele. Eusébio está sentado, à espera do almoço. É
    cumprimentado por todos aqueles que lhe passam ao lado. Há quem o chame
    Eusébio ou king. Dá para tudo. Eusébio, como um rei, estica sempre o
    polegar em sinal de ok. Nós bem dizíamos, é um prato. E, durante uma
    hora, a conversa é deliciosa. Eusébio fala com calma. Avança como se
    fosse um extremo, às vezes recua, que é como quem diz rectifica, depois
    avança novamente e fala sem parar, ziguezagueando pelo vocabulário à
    procura da melhor palavra para qualificar este ou aquele ou para definir
    um ou outro momento, seja glorioso ou simplesmente anedótico. Eusébio é
    um prato. Já tínhamos dito? A sua memória tem não sei quantos megas de
    ram. Aí está outro dado que o enobrece: fala do que sabe, com pormenores
    incríveis. Com ele, não há cá reticências. Quando o seu almoço chega ao
    balcão, serve-se e tapa o copo de água com um guardanapo. Vai começar a
    falar... mas o seu raciocínio é interrompido pelo toque do telemóvel. É
    o Luís Piçarra. O toque do telemóvel, claro. "Sou do Benfica/E isso me
    envaidece/Tenho a genica/Que a qualquer engrandece/Sou de um clube
    lutador/Que na luta com fervor/Nunca encontrou rival/Neste nosso
    Portugal". Eusébio olha para o monitor, atende, fala de mansinho e adia a
    conversa para outra altura. Agora, é a hora do i. Finalmente.

    Isso é o "Ser Benfiquista"...

    Sim. Do Luís Piçarra! Nem imaginas o frisson que a música causava a nós,
    jogadores, antes dos jogos. Estávamos ali perfilados, com o adversário e
    os árbitros, de repente os altifalantes davam a música, nós ficávamos
    em pele de galinha e era como que entrássemos em campo já a ganhar.
    Fosse quem fosse. O Sporting ou o Real Madrid.

    Pois, é curioso que fala nisso, porque vai ao encontro de uma das minhas
    perguntas: como é possível o Eusébio ter estado 15 anos no Benfica e só
    ter perdido seis jogos em 275 no Estádio da Luz? E como é que o Eusébio
    marcou em quatro dessas derrotas?

    A sério? Seis? E já foram muitas [e ri-se com vontade]. Com quem foram?

    Santos de Pelé (2-5) e FC Porto (1-2) em 1962, Sporting (0-2) em 1963,
    outra vez Sporting (2-4) em 1965, Manchester United (1-5) em 1966 e Ajax
    (1-3) em 1969.

    [Eusébio olha para o ar e começa a falar só para si, mas alto] Desses
    seis, só dois foram para o campeonato nacional [FC Porto e Sporting-65].
    O Santos, para a Taça Intercontinental. Manchester United e Ajax, para a
    Taça dos Campeões. E esse 2-0 com o Sporting para a Taça de Portugal.
    Ganhámos lá, em Alvalade, por 1-0, golo do Águas. Depois, perdemos 2-0.
    Dois do Figueiredo. Olha, foi essa vitória que nos tirou da final da
    Taça de Portugal mas permitiu ao Sporting ganhar 4-0 ao V. Guimarães e
    garantir o lugar na Taça das Taças, que haveria de levantar na época
    seguinte. Nada mal, ajudámos o Sporting, não foi?! [e ri-se mais ainda,
    entre dois toques do Luís Piçarra].

    Porque é que disse "fosse quem fosse: o Sporting ou o Real Madrid"?

    O Sporting, porque representei-os em Lourenço Marques, agora Maputo, e
    porque sempre foi o grande rival do Benfica. Nas 15 épocas de Benfica,
    fomos campeões nacionais 11 vezes e eles quatro. O FC Porto nunca foi
    campeão português no meu tempo. E também raramente me ganhou. Na Luz, já
    vimos, só uma vez. E lembro-me de uma outra vez, bem mais pesada: 4-0
    nas Antas. Quatro golos do Lemos. Lembro-me perfeitamente do Rui, que
    era o guarda-redes do Porto, a dizer-me isso: ''Este ano é nosso'' [esse
    4-0 foi em Janeiro de 1971 e estávamos na 18.ª jornada, pelo que
    faltavam oito para acabar o campeonato, aí liderado por Sporting, com
    três pontos de avanço sobre V. Setúbal, Benfica e FC Porto]. Eu
    disse-lhe: ''cuidado com isso, Rui. Ainda vamos ser nós os campeões.'' E
    fomos mesmo campeões [com três pontos de avanço sobre o Sporting,
    quatro sobre o FC Porto e sete sobre o V. Setúbal]. No dia em que nos
    sagrámos campeões, na última jornada, 5-1 à Académica [e faz o gesto de
    cinco com a mão direita, depois de pousar o garfo no prato], o Rui
    ligou-me para casa, porque naquela altura não havia nada de telemóveis:
    ''Tinhas razão. Vocês foram mesmo os campeões. Parabéns.'' Foi um gesto
    bonito, o dele.

    E o Real Madrid?

    O quê?

    E o Real Madrid? Disse "fosse quem fosse...

    Ah, está bem. Desde que me lembro da minha existência [Eusébio nasceu em
    Janeiro de 1942], o Real Madrid sempre foi a equipa. A máquina. E o Di
    Stéfano o meu grande ídolo. Eu estava em África e ouvia falar muito do
    Di Stéfano, do senhor que ele era, do futebol que ele jogava. Não o via a
    jogar, claro, mas os jornais que chegavam a Lourenço Marques, com dois
    ou três dias de atraso em relação à data da edição, noticiavam as
    façanhas do Real Madrid, a equipa que dominava o panorama europeu, como
    se viu com a conquista das cinco Taças dos Campeões seguidas [entre 1956
    e 1960]. E o Di Stéfano era o meu ídolo.

    E calhou logo encontrá-lo na sua primeira final europeia, em 1962!

    Pois foi. Ganhámos 5-3, a perder 3-2 ao intervalo com três golos do
    Puskas. Na segunda parte, demos a volta e marquei dois golos, um deles
    de penálti. Antes do jogo, eu disse ao Coluna para pedir autorização ao
    Di Stéfano que me desse a sua camisola número 9 no final. Jogámos,
    ganhámos e, quando o árbitro apitou para o fim, lembrei ao Coluna o
    pedido da camisola. Lá fomos e o Di Stéfano, cabisbaixo mas afável,
    deu-me a camisola. Vê lá, tinha acabado de me sagrar campeão europeu e
    só queria a camisola do Di Stéfano. Está guardada, e é uma relíquia.

    Já naquele tempo era costume trocar de camisola?

    Não muito, mas eu era novo e o Di Stéfano era uma referência. Ainda hoje é! Aquele era o momento.



    Continua


    Trocou com mais quem?

    Tanta gente. Hilário, do Sporting.

    E voltámos ao Sporting. Por muitos defesas que o tenham marcado, foi um guarda-redes que ficou célebre por sua causa: o Damas!

    Grande amigo. Havia uma rivalidade dentro de campo pelas equipas que
    representávamos mas a nossa amizade era superior a tudo isso. Quando nos
    encontrávamos por acaso em Lisboa, íamos almoçar ou jantar ou as duas
    coisas com as nossas famílias. Juntos, vivemos grandes tardes. Na Luz,
    em Alvalade, no Jamor. Grande homem, grande guarda-redes.

    O Damas também ficou conhecido como o Eusébio do Sporting. Aliás,
    imagine Portugal sem Eusébio. Não havia estátua Eusébio no Estádio da
    Luz, não havia Damas como Eusébio do Sporting, não havia jogador
    português no top 10 dos melhores de sempre do século XX, provavelmente o
    Sporting tinha ganho mais campeonatos, o Benfica menos... Pergunta: se o
    Eusébio não tivesse vindo para Portugal, o que estava agora a fazer?

    A jogar futebol. Acredita em mim. O meu futuro seria sempre futebolista.
    Há até uma história curiosa. A minha mãe nunca me quis deixar ir embora
    de Lourenço Marques. Aos 15 anos, a Juventus, a Juventus de Itália,
    ok?, queria contratar-me, porque um olheiro deles, que tinha sido um
    conhecido guarda-redes italiano da Juventus, viu-me e disse-lhes que
    havia ali um rapaz com potencial, que seria bom aproveitar enquanto eu
    estivesse incógnito. A Juventus chegou-se à frente mas a minha mãe não
    quis ouvir nada nem ninguém.

    Como eram esses tempos em Lourenço Marques?

    Grandiosos. Lembro-me dos jogos que fazíamos. Lembro-me de procurar
    meias, enrolá-las todas, misturá-las com papel de jornal e daí fazer uma
    bola. E lembro-me também dos nossos concursos. Quem ganhasse, comia dez
    castanhas!

    Como é que era isso?

    Eram concursos de habilidade. Tínhamos de fazer corridas com distâncias
    pré-definidas a dar toques naquelas bolas [e começa a explicar por
    gestos, com as duas mãos]. Primeira prova: 20 metros. O primeiro a dar
    chegar à linha da meta sem deixar a bola e trocá-la do pé direito para o
    esquerdo o maior número de vezes possível qualificava-se para a fase
    seguinte, que era a prova dos 50 metros, daí para os 100 e acabávamos
    nos 200 metros. Sempre na mesma coisa: pé direito, pé esquerdo, pá, pá,
    pá, pá [as mãos a bater uma na outra fazem eco na Tia Matilde] até
    cortar a meta. Aquilo eram tardes a fio, dias seguidos, meses, anos... O
    vencedor ganhava castanhas que assávamos ali na hora, mas nunca, nem
    por uma vez, o vencedor ficou com todas as castanhas. Qualquer que fosse
    o vencedor, dividia-as com todos os outros. Ehhh, grandes tempos [olha
    em frente, para uma parede vazia de conteúdo, mas os olhos transmitem
    emoção]. Cá em Portugal, o meu treino era outro, claro.

    Então?

    No final de cada treino, eu ficava no campo a treinar remates. Punha dez
    bolas ao longo da grande área e ia rematando à baliza. Pá, pá, pá [a
    Tia Matilde não estremece com o eco, mas pouco falta], pé direito, pé
    esquerdo, ao ângulo superior, rasteiro ao poste mais distante. Fazia
    este exercício dez vezes por dia, o que dava cem remates no total. Dez à
    vez, depois ia buscar as bolas, porque não havia cá apanha-bolas nem
    nada, não é? Distribuía as bolas outra vez pela área e pá, pá, pá, pá.

    Um dia destes, vi uma fotografia sua à baliza. O Eusébio tinha estilo, hããã!

    [sem mexer as pernas nem os pés, move o tronco para direita e para a
    esquerda] O treino de guarda-redes era o melhor para os rins, para os
    abdominais. Para ficar definitivamente em forma, ia à baliza na parte
    final dos treinos e dizia ao Simões para me atirar bolas para o lado
    esquerdo e para o lado direito. Com a mão, mas também em jogadas de um
    para um. E eu atirava-me aos pés dele.

    Podia então ter defendido a baliza do Benfica naquela final da Taça dos
    Campeões com o Inter, em Milão, quando o Costa Pereira se lesionou?

    Sim, podia.

    Bem... se fosse, a sua lenda era maior ainda: ir à baliza numa final da
    Taça dos Campeões. E se não sofresse nenhum golo, como aconteceu com o
    Germano? Aí então...

    Nessa final com o Inter, havia três hipóteses: eu, o Cavém e o Germano.
    Como estávamos a perder e precisávamos de dar a volta, eu fiquei na
    frente e lá foi o Germano para a baliza, que manteve o 1-0. Ele já
    estava a coxear e sem hipótese de acompanhar o arranque de algum
    adversário.

    Sabe qual foi o guarda-redes a quem marcou mais golos?

    Não.

    Ao Américo, do FC Porto.

    Quantos?

    17.

    Estivemos juntos no Mundial-66. Belo guarda-redes. Porto e Sporting sempre estiveram bem representados na baliza.

    Tirando o Damas, quem se destacava mais? Carvalho, Octávio de Sá, Carlos Gomes...

    O Carlos Gomes [e olha para a frente, como se o estivesse a ver naquele
    preciso momento]. Uma vez, quando ele defendia o Atlético, treinado pelo
    José Águas [1961-62], o intervalo de um jogo com o Benfica demorou mais
    tempo que o habitual. A PIDE estava na Tapadinha e ia levá-lo para
    interrogatório. Mas só depois do jogo. Ao intervalo, um amigo dele, que
    também era meu, alertou-o para isso, meteu-o na bagageira de um boca de
    sapo [Citröen] e lá foram para Badajoz. O Carlos Gomes foi parar a
    Marrocos, a jogar no Tânger. E o intervalo desse jogo demorou sei lá o
    quê. Quando o Atlético entrou em campo, o Carlos Gomes já estava a
    caminho de Badajoz. Sabes porque é que o Carlos Gomes está aqui? [e
    aponta para a cabeça]

    Não faço ideia. Sei que ele sempre foi irreverente e que jogava de
    preto, em protesto com o amadorismo do futebol e dos seus dirigentes.

    Não [e esboça um sorriso largo]. Lembro-me dele era eu um miúdo de oito
    anos e ia ver com o meu tio os particulares das equipas portuguesas em
    Lourenço Marques. Era um costume, e antes dessa equipas regressarem a
    Portugal, ainda iam à África do Sul para ganhar mais um cachet. Lá, os
    negros não podiam jogar. Lembro-me que o Sporting jogou em Lourenço
    Marques com o Jorge Mendonça e na África do Sul não o pôde fazer. Eles
    tinham um campeonato para brancos e outro para negros. Mas porquê? Se
    somos todos iguais: brancos, pretos, amarelos, azuis... Na África do
    Sul, era assim. E lembro-me que o Atlético Clube de Portugal [faz
    questão de repetir o nome do clube] chegou à África do Sul e voltou logo
    para Portugal, porque recusou as imposições dos sul-africanos, de jogar
    sem o Ben David, que era cá um jogador [quatro golos em seis
    internacionalizações por Portugal, entre 1950 e 1952]. Mas volto ao
    Carlos Gomes.

    Ok. Carlos Gomes, então

    Num jogo desses, ele foi expulso de campo. E eu lembro-me, tão bem, mas
    tão bem, da malandrice dele. [Eusébio faz o gesto do árbitro "para a
    rua", porque ainda não havia cartões, e traça uma grande área imaginária
    com talheres, pratos e copos, sem tirar o guardanapo de cima daquele
    que tem água] Ele foi da baliza até à bandeirola de canto e daí até ao
    meio-campo sempre pela linha, sem nunca sair do campo. Estavam todos a
    olhar para ele, a ver quando saía para recomeçar o jogo. Quando ele
    chegou ao meio-campo, desapareceu rumo ao balneário. Quando cheguei a
    Portugal, vi-o e disse para mim ''olha quem é ele''.

    Quando chegou a Portugal... Ainda se lembra do primeiro jogo que viu do Benfica?

    Claro. Cheguei numa quinta-feira [15 de Dezembro], depois da mais longa
    viagem de sempre. Acho que foram 30 ou 31 horas de avião. Tantas
    escalas... Só me lembro de uma: Dacar [Senegal].

    E depois?

    Bem, cheguei a Lisboa à noite e do aeroporto fui para o Lar do Jogador,
    onde conheci todos os jogadores e mais o treinador, o Bela Guttmann.
    Sabes que ele nunca me tratou por Eusébio? Nunca! Era sempre o menino. O
    menino tem de ir connosco, o menino tem de fazer isto, o menino tem
    aquilo... Do Lar do Jogador, viajei para a Covilhã. Apanhei o comboio
    aqui [e aponta lá para fora, para a Estação do Rego]. Fazia cá um frio
    lá em cima. Quis ir-me embora. De lá, da Covilhã, e até de Portugal. Foi
    o Coluna que me sossegou. Eu conhecia-o de Lourenço Marques e as nossas
    famílias davam-se bem. Eu até tratava a mãe dele por tia. E o meu irmão
    deu-me uma carta para lhe entregar no dia em que o visse em Lisboa.
    Nesse jogo na Covilhã, começámos a perder mas ganhámos 3-1.

    Chegou em Dezembro de 1960 mas só se estreou em Junho de 1961.

    Sim, houve muita burocracia pelo meio, entre Sporting, Benfica,
    federação... Em Junho, lá me estreei. A 1 de Junho, no dia seguinte ao
    Benfica ter ganho a primeira Taça dos Campeões [3-2 ao Barcelona, em
    Berna]. A Federação Portuguesa não quis adiar o jogo e o Benfica
    apresentou a equipa B. Perdemos 4-1, nos Arcos.

    Mas o Eusébio marcou um golo [o 473.º e último golo oficial de Eusébio
    pelo Benfica, em Março de 1975, também foi com o V. Setúbal, mas já no
    Bonfim]
    ]


    Continua
    Sim, o 3-1.

    E também falhou um penálti?

    È verdade, defendido pelo Félix. O pai do Mourinho.

    Falhou mais penáltis?

    Um para o Maló, da Académica [na Luz, em Outubro de 1966: 2-1 para o Benfica]. E outro para o União de Almeirim.

    Como é que é?

    Para a Taça de Portugal, com o União de Almeirim [32 avos-de-final, a 9
    de Fevereiro de 1969]. Ganhámos 8-0, eu já tinha marcado três ou quatro,
    não me lembro bem [foram três, e vale a pena dizer que Eusébio marcou
    18 em nove jogos nessa edição da Taça, que o Benfica levantou, numa
    final com a Académica, que meteu prolongamento e só se evitou um segundo
    jogo por-culpa-vocês-sabem-de-quem]. E houve um penálti. Eu fui batê-lo
    e o guarda-redes disse-me que o pai dele estava no Estádio da Luz. Eu
    então disse-lhe que ia atirar para aquele lado [Eusébio aponta o seu
    lado direito] e ele foi lá buscá-la. Eu e ele tirámos fotografias, com o
    pai também, e, durante essa semana, ele virou herói nacional, com
    reportagens numa série de jornais. Foi engraçado [e sorri largamente,
    como se lhe estivessem a dar uma Bola de Ouro].

    Seis derrotas na Luz, 11 títulos de campeão nacional em 15 épocas, três
    penáltis falhados, duas Botas de Ouro [melhor marcador europeu] e uma
    Bola de Ouro [melhor jogador da Europa para a France Football]. Que
    carreira. Falta-lhe alguma coisa?

    Já que fala nisso... Podia ter ganho duas Bolas de Ouro.

    Pois. Ganhou uma em 1965, com oito pontos de vantagem sobre Facchetti,
    lateral italiano do Inter. Mas perdeu a de 1966, para Bobby Charlton.
    Por um ponto, não foi?

    Sim. Um ponto.

    E o voto foi de um jornalista português, o Couto e Santos, do Mundo
    Desportivo. Ele votou no Bobby Charlton em primeiro lugar, eu em segundo
    [em 1966, Charlton foi campeão do mundo e eleito o melhor jogador pela
    FIFA numa prova em que Eusébio foi melhor marcador destacado, com nove
    golos em seis jogos]. O Charlton acabou com 81 pontos, eu com 80. Se ele
    votasse em mim, seria o contrário: eu 81, o Charlton 80.

    E alguma vez falou com Couto e Santos sobre isso?

    Siiim. Ele sempre me disse que votou no Charlton porque julgava que eu
    ia ganhar com avanço. Como é que alguém pode pensar isso numa votação
    secreta? E o que é que eu podia fazer-lhe? Nada, não é? Apenas
    perguntei-lhe e ele respondeu-me desta forma. Se ele votasse, eu seria o
    primeiro jogador a ganhar a Bola de Ouro duas vezes seguidas.

    A Bola de Ouro perdida para o Bobby Charlton. Mais alguma coisa que lhe falta? Li algures que nunca jogou com o Matateu.

    É verdade, o Matateu. Ele nunca jogou comig... Desculpa, eu nunca joguei
    com o Matateu. Assim é que é, assim é que se deve dizer: eu nunca
    joguei com ele. Só uns treinos na selecção portuguesa, com o Peyroteo a
    treinador. [E o Luís Piçarra entra novamente pelos nossos ouvidos
    dentro... Eusébio é ou não é um prato?]

      Data/hora atual: Sex Abr 26 2024, 09:58