EntrevistaSoraia
Chaves é uma estrela de telenovelas impulsiva em ‘A Bela e o
Paparazzo’, novo filme de António-Pedro Vasconcelos que estreia amanhã,
onde veste a pele de ‘Mariana’. De regresso à realidade, a actriz
voltou ao ‘estado’ natural: morena.
Correio da Manhã – Está contente por deixar o look de loura para trás?
Soraia Chaves
– Sim, estou muito contente por voltar a ser morena e deixar o cabelo
louro que fez parte da construção da minha personagem, a ‘Mariana’. O
louro não tem nada a ver comigo. Nos meses em que estive loura, quando
me via ao espelho, só via a ‘Mariana’, não era eu. Mas serviu-me para o
filme. Ajudou-me também a fazer bem distinção entre a ‘Mariana’ e a
‘Maria’, do ‘Call Girl’.
– Qual das duas lhe deu mais gozo?
–
Sinceramente, o desafio foi serem mulheres com energias muito
diferentes. O que mais me atraiu neste projecto, além do prazer de
voltar a trabalhar com a mesma equipa (o realizador António-Pedro
Vasconcelos, o produtor Tino Navarro e o argumentista Tiago R. Santos),
foi o desafio de fazer uma comédia romântica, um género nada habitual
em Portugal.
– Que é difícil...
–
Bem mais do que fazer um drama. É mais difícil fazer rir do que chorar.
O que tem piada para uns pode não ter para outros. Esperamos conseguir
mas este papel foi gratificante...
– Sente-se a musa do realizador?
–
Não, mas sinto-me privilegiada. Pela oportunidade de interpretar as
personagens que ele desenvolve e por poder ser dirigida por ele.
–
Nunca tinha trabalhado com o Marco d’Almeida, com quem faz par
romântico. Sentiu mais química com ele ou com o Ivo Canelas, em ‘Call
Girl?
– Senti óptima química com os
dois. Em ambos os casos estávamos muito empenhados no projecto e cheios
de vontade de fazer o melhor. E isso ajuda a dar-nos sintonia, já que
temos o mesmo objectivo. E tive muito prazer a trabalhar com o Marco,
não só pela naturalidade dele mas também porque me deu segurança.
– Divertiram-se? Há uma cena ‘kitsch’ em que dançam descalços, no meio da rua, à noite, no Rossio...
–
Foi muito divertido e essa cena, de dançarmos descalços no meio da rua,
foi especialmente caricata. É algo que não acontece todos os dias.
– Já alguma vez lhe apeteceu fazer algo assim, uma loucura pública?
– Não. Um dos grandes prazeres que tenho como actriz é, precisamente, viver momentos que não vivo na minha vida pessoal.
– Mantém o rótulo de sex symbol. Vai ser difícil libertar-se dele?
–
O rótulo de sex symbol foi algo que me puseram. Está nas mãos de quem o
criou, da opinião pública. Quando escolho um projecto, os critérios não
dependem disso. O que quero é uma boa história, uma boa personagem e
trabalhar com pessoas em quem confio.
– Diga-me um papel que ainda não tenha feito e gostaria...
– Gostaria de fazer uma mulher mais desequilibrada.
PERFIL
Soraia
Chaves nasceu há 27 anos em Lisboa e tornou-se conhecida graças ao seu
papel em ‘O Crime do Padre Amaro’, que é o filme português mais visto
de sempre. Além de algumas participações na moda e em televisão,
destacou-se em ‘Call Girl’. Vive em Madrid, onde estuda representação.
'É UMA HISTÓRIA DE AMOR'
CM – ‘A Mariana’ é impulsiva. É muito diferente da Soraia?
S. C.
– É o oposto de mim: tem os nervos à flor da pele e é uma mulher de
garra que explode facilmente. Eu sou bem mais reservada, calma e
ponderada. Foi muito engraçado poder explodir daquela maneira. Ainda
que em ficção, deu-me muito gozo.
– ‘A Bela e o Paparazzo’ é uma caricatura à Imprensa cor-de-rosa. Já foi perseguida por paparazzi?
–
Não sinto tanto assédio como a ‘Mariana’, mas este é um tema muito
actual: existe interesse da Imprensa e do público que querem saber como
os actores vivem, o que fazem...
– E esse interesse é legítimo?
–
O que acho invasivo é um certo oportunismo ou agressividade na altura
de captar esse momento, sem autorização do visado. Tenho todo o prazer
e interesse em promover o meu trabalho mas não gosto de expor a vida
pessoal. E esse direito deve ser preservado.
– Qual é a moral deste filme?
–
Eu vejo uma história de amor entre duas pessoas que mudam a vida uma da
outra. E vejo também o retrato de uma geração, dos trintas, um pouco
perdida e insatisfeita.
COMÉDIA ROMÂNTICA MUITO, MUITO LIGEIRA
Em
‘A Bela e o Paparazzo’ – que chega amanhã aos cinemas –, Soraia é uma
estrela de telenovelas em crise emocional e profissional. Nada que se
compare ao currículo da actriz que, até há pouco tempo, era uma das
estrelas exclusivas da SIC. Livre agora do contrato com o canal de
Carnaxide, apurou o CM, tem estado a analisar propostas, quer ao nível
da apresentação como da representação.
No grande
ecrã, Soraia espantará os espectadores na pele de uma loura explosiva
que se apaixona por um paparazzo (Marco d’Almeida) sem saber que é ele
que a segue e fotografa sem descanso. A par deste romance de encontros
e desencontros há ainda a ‘missão’ paralela de Tiago (Nuno Markl),
amigo do fotógrafo, que anseia declarar a independência do seu prédio,
naquele que é, segundo o realizador António-Pedro Vasconcelos, 'o lado
mais cómico do filme.'
No fim, entre cenas
inesperadas (mas) altamente previsíveis e risos soltos mais ou menos
sinceros, fica a ideia de uma comédia romântica ligeira... muito, muito
ligeira.
DISCURSO DIRECTO
'SEI QUE A SORAIA ME VAI SURPREENDER': António-Pedro Vasconcelos, Realizador
Correio da Manhã – Como foi voltar a filmar com a Soraia?
António-Pedro Vasconcelos – A Soraia é uma grande actriz e faz sempre os trabalhos de casa. Dá--me tranquilidade porque sei que me vai surpreender.
– O filme tem muitos palavrões. Os diálogos ganham realismo assim?
–
O produtor pediu-me para moderar os palavrões, no argumento original
havia mais. Mas isso é algo do dia-a-dia. Passamos a vida a ver filmes
norte-americanos cheios de palavrões, e não protestamos. Uma pessoa
quando se queima diz o quê?