Há três anos que a colheita não estava tão complicada. Hospitais têm reservas para dois dias, 50% dos mínimos previstos
Há
mais de três anos que as reservas de sangue em Portugal não estavam tão
baixas. Os hospitais apenas têm reservas para dois dias e o Instituto
Português de Sangue (IPS) para um dia, quando o limiar de segurança é
de quatro dias. Ou seja faltam cinco mil sacos de sangue para se
atingirem os mínimos de segurança. Uma situação que já está a causar
problemas em alguns hospitais, que começam a adiar e a reajustar as
cirurgias programadas. O IPS e os hospitais renovaram ontem o
apelo à dádiva e esperam que as colheitas diárias dupliquem, atingindo
as duas mil durante o fim-de-semana. Gabriel Olim, presidente do IPS,
admitiu ao DN não se recordar de uma situação igual. "Temos usado cerca
de 1036 unidades de sangue diariamente, mas a dádiva não ultrapassa as
970. Pouco a pouco, as reservas têm diminuído, mesmo não havendo
ruptura".O IPS, responsável por 62% das colheitas no País,
fornece sangue aos hospitais que precisem, embora, "idealmente, eles
devam garantir a sua auto-suficiência", alerta. No mínimo, devem ter
reservas para quatro dias, "faltando, por isso, mais duas mil
unidades", refere. A estas juntam-se as mais de três mil em falta no
IPS, que ontem apenas tinha 1094 em todo o País. "Uma boa reserva é
termos sacos para sete dias, e no ano passado a média era de 8,8",
avança.Há várias causas para o problema. Tal como é habitual em
épocas de dias festivos e em que as temperaturas são baixas, há menos
doações de sangue. "O mau tempo leva a algum comodismo", explica
Gabriel Olim. A isto juntam-se os efeitos perversos de uma das
apostas no sector : "Fazemos hoje muitos mais cirurgias, no seguimento
dos planos de combate às listas de espera. O mesmo se passa com os
transplantes e com os acidentes, que necessitam de muito sangue".Se
em Janeiro o consumo era mais ou menos igual à colheita, o mesmo não
está a acontecer este mês. Os cenários não são muitos: ou se eleva a
colheita nos próximos dias ou se começa a cortar em alguma da
actividade programada. "Isso já está a acontecer em hospitais na região
de Lisboa, mas não no resto do País". Santa Maria é um exemplo (ver
texto ao lado).As cirurgias urgentes estão garantidas "e sabemos
que neste momento ninguém corre risco de vida. Se tivermos de cortar as
cirurgias programadas, poupamos metade das reservas".De acordo
com informação do IPS, faltam sobretudo unidades de sangue de tipo A.
"Se faltarem podemos usar as do tipo 0, mas estas também acabarão por
faltar", admite Gabriel Olim. Só nos tipos A e 0, que são os mais
necessários, há apenas 346 unidades no IPS.O sangue de tipo 0
negativo, que pode ser usado em doentes com outro tipo de sangue,
apenas existe em quantidade suficiente para dois dias. O mesmo acontece
para o tipo A negativo. Pior estão os 0 positivo e A positivo, com
sacos de sangue para apenas um dia. Apesar do apelo de ontem,
os resultados pouco se sentiram. "Temos de ter duas mil dádivas diárias
para reduzir os riscos nos próximos dias", conclui o responsável do