Em 1983, após decisões, anulações, recursos, recursos dos recursos, a
final da Taça de Portugal jogou-se em Agosto, no campo do FC Porto. Quem
marcou o único golo? A locomotiva do Barreiro.
Nunca uma final da Taça de Portugal
despertou tanta discórdia e confusão como aquela em 1983, entre FC
Porto e Benfica. Ainda antes da época
1982-83 começar, a Federação Portuguesa
de Futebol (FPF) deu
a certeza de que a final se realizaria nas Antas,
indepen- dentemente do nome e do peso dos clubes, mas o rastilho
explodiu quando se encontraram os dois finalistas, a 8 de Maio: FC Porto
(9-1 ao Académico, da 2.ª divisão) e Benfica (2-0 ao Portimonense).
O
Benfica não achou graça nenhuma à coincidência e o presidente Fernando
Martins mostrou-se intransigente, razão pela qual
mandou todos os seus jogadores para as merecidas férias, depois de
conquistado o campeonato. No Porto a arrogância benfiquista fez mossa e
os rumores de manobras de bastidores no sentido de transferir a decisão
para Lisboa deixaram os portistas à beira de um ataque de nervos.
Organizou-se, então, uma assembleia-geral no dia 1 de Junho, em que os
sócios aprovaram por aclamação que o clube não comparecesse à final, a
não ser nas Antas. "Lisboa não pode colonizar o resto do país. O desejo
deles é que o FC Porto desça de divisão", vociferou Pinto
da Costa. No dia 6, o Conselho de
Justiça da FPF deu razão ao FC Porto, mas o Benfica ameaçou recorrer aos
tribunais civis, pelo que a final ficou adiada sine die. E é
aqui que entra o sueco Sven-Goran Eriksson, no relato
de Carlos Manuel, o herói das Antas.
"A Taça já
estava marcada para as Antas há muito, por isso não valia a pena teimar.
Então Eriksson dirigiu-se ao presidente Fernando Martins e disse-lhe
para jogarmos a decisão no Porto. O presidente ouviu e aceitou." A
versão do presidente é, no entanto, ligeiramente diferente, com fina
ironia pelo meio. "Fui eu que decidi que fôssemos às Antas, por uma
questão de respeito pelo futebol e para evitar que o FC Porto pudesse
estar sujeito a terríveis consequências..."
Novamente Carlos
Manuel: "Na quarta-feira antes do jogo, o Benfica foi jogar a Bilbau,
com o Athletic, para a Taça Ibérica,
e domingo fomos às Antas. E não se quebrou o enguiço, pois voltei a
ganhar uma final da Taça ao FC Porto, depois de 1980 e 1981. O meu golo
foi um pouco parecido com aquele marcado à RFA, em Estugarda,
dois anos depois. No meio-campo, o Stromberg passou-me
a bola e eu dei dois passos para a frente antes de rematar de muito
longe. O remate foi traiçoeiro e acusaram Zé Beto,
o malogrado Zé Beto [morreu num acidente de viação em 1992], de ter
sido mal batido. Depois, controlámos a partida e acabámos por vencer de
forma justa e limpa num jogo que marcou o início de época e não o final,
como ainda é habitual."
Para Fernando Gomes,
capitão do FC Porto nesse encontro, a verdade é outra. "O jogo ficou
decidido por um remate fora da área, muito longe da baliza mesmo, que
traiu o guarda-redes. É verdade que o Benfica defendeu bem a vantagem,
mas o FC Porto foi superior como nunca havia sido frente ao Benfica. Por
isso perdemos mal essa final, disputada fora de época e de forma
polémica."
Quem ficou agastado com a derrota foi José
Maria Pedroto, o treinador do FC
Porto, naquele que seria o seu último clássico com o Benfica. "O Benfica
utilizou o seu poderio para não jogar na data marcada [12 de Junho em
Coimbra], em que reconhecia estar em muito má forma." Ainda não havia
águia Vitória mas mesmo assim a Taça voou para Lisboa.
final da Taça de Portugal jogou-se em Agosto, no campo do FC Porto. Quem
marcou o único golo? A locomotiva do Barreiro.
Nunca uma final da Taça de Portugal
despertou tanta discórdia e confusão como aquela em 1983, entre FC
Porto e Benfica. Ainda antes da época
1982-83 começar, a Federação Portuguesa
de Futebol (FPF) deu
a certeza de que a final se realizaria nas Antas,
indepen- dentemente do nome e do peso dos clubes, mas o rastilho
explodiu quando se encontraram os dois finalistas, a 8 de Maio: FC Porto
(9-1 ao Académico, da 2.ª divisão) e Benfica (2-0 ao Portimonense).
O
Benfica não achou graça nenhuma à coincidência e o presidente Fernando
Martins mostrou-se intransigente, razão pela qual
mandou todos os seus jogadores para as merecidas férias, depois de
conquistado o campeonato. No Porto a arrogância benfiquista fez mossa e
os rumores de manobras de bastidores no sentido de transferir a decisão
para Lisboa deixaram os portistas à beira de um ataque de nervos.
Organizou-se, então, uma assembleia-geral no dia 1 de Junho, em que os
sócios aprovaram por aclamação que o clube não comparecesse à final, a
não ser nas Antas. "Lisboa não pode colonizar o resto do país. O desejo
deles é que o FC Porto desça de divisão", vociferou Pinto
da Costa. No dia 6, o Conselho de
Justiça da FPF deu razão ao FC Porto, mas o Benfica ameaçou recorrer aos
tribunais civis, pelo que a final ficou adiada sine die. E é
aqui que entra o sueco Sven-Goran Eriksson, no relato
de Carlos Manuel, o herói das Antas.
"A Taça já
estava marcada para as Antas há muito, por isso não valia a pena teimar.
Então Eriksson dirigiu-se ao presidente Fernando Martins e disse-lhe
para jogarmos a decisão no Porto. O presidente ouviu e aceitou." A
versão do presidente é, no entanto, ligeiramente diferente, com fina
ironia pelo meio. "Fui eu que decidi que fôssemos às Antas, por uma
questão de respeito pelo futebol e para evitar que o FC Porto pudesse
estar sujeito a terríveis consequências..."
Novamente Carlos
Manuel: "Na quarta-feira antes do jogo, o Benfica foi jogar a Bilbau,
com o Athletic, para a Taça Ibérica,
e domingo fomos às Antas. E não se quebrou o enguiço, pois voltei a
ganhar uma final da Taça ao FC Porto, depois de 1980 e 1981. O meu golo
foi um pouco parecido com aquele marcado à RFA, em Estugarda,
dois anos depois. No meio-campo, o Stromberg passou-me
a bola e eu dei dois passos para a frente antes de rematar de muito
longe. O remate foi traiçoeiro e acusaram Zé Beto,
o malogrado Zé Beto [morreu num acidente de viação em 1992], de ter
sido mal batido. Depois, controlámos a partida e acabámos por vencer de
forma justa e limpa num jogo que marcou o início de época e não o final,
como ainda é habitual."
Para Fernando Gomes,
capitão do FC Porto nesse encontro, a verdade é outra. "O jogo ficou
decidido por um remate fora da área, muito longe da baliza mesmo, que
traiu o guarda-redes. É verdade que o Benfica defendeu bem a vantagem,
mas o FC Porto foi superior como nunca havia sido frente ao Benfica. Por
isso perdemos mal essa final, disputada fora de época e de forma
polémica."
Quem ficou agastado com a derrota foi José
Maria Pedroto, o treinador do FC
Porto, naquele que seria o seu último clássico com o Benfica. "O Benfica
utilizou o seu poderio para não jogar na data marcada [12 de Junho em
Coimbra], em que reconhecia estar em muito má forma." Ainda não havia
águia Vitória mas mesmo assim a Taça voou para Lisboa.